Pode parecer piada, uma gozação. Antes fosse. Mas foi exatamente o que aconteceu quando pivete lá no interior, na cidade de padre Rolim – Cajazeiras, onde o entretenimento que a gente mais desfrutava era ir ao cinema ou, vez por outra, algum pequeno circo.
Época
em que foi encenada a maior história de amor de todos os tempos: Romeu e
Julieta. Esse Shakespare que ganhou as telas pelas mãos do diretor Franco
Zeffirelli, que fez um sucesso estrondoso no auge da fase do amor livre, em
1968.
Pois
bem: foi justamente nesse período em que se anunciava pelas ruas dessa
abençoada cidade, através do precário serviço de carro de som, o inusitado show
do “Homem que dançava twist de cabeça para baixo”.
O
referido estilo de dança marcou a década de 60. Teve sua origem nos Estados
Unidos por uma simbiose de ritmos como rock and roll, jazz e outros.
Essa
atração artística tomou conta da cidade. Era só o que se falava. Um
acontecimento inédito. Jamais visto! Pois, dançar twist com os pés já era
difícil, imagine dançar de cabeça para baixo.
No contorcionismo circense
existem muitas poses possíveis de serem feitas e muitas delas são realmente
impressionantes, chegam desafiar a elasticidade do corpo. Daí a razão de
suscitar tamanha curiosidade para ver a proposta desse desconhecido “show
man”.
Tempos de hoje: aos olhos do
especialista em “show business”, uma espécie de visão técnica sofisticada,
futuristicamente brilhante a ideia e imaginativamente hollywoodiana.
É chegada à hora do show. Mas
de repente, assim mesmo, no mais que de repente, da expectativa fez-se a
decepção, fez-se de falso quem se fez verdadeiro, de obscuro que pareceu
claro... O inesperado dançarino entra no palco do modesto Clube 1º. de Maio, já
com todas suas dependências lotadas, após o anúncio pomposo e estrepitoso do
apresentador ao “maior espetáculo da terra”.
Em seguida, diz algo como “Oi,
quero agradecer a presença de todos...”. De supetão, ele emenda: “Ah, meu nome
é Mário...”. De baixíssima estatura (anão) e rechonchudo. Com cabeça mais
espessa e arredondada. Uma calota craniana mais achatada que o normal. Depois,
ele simplesmente sobe pra uma mesa velha, com auxílio de um tamborete, faz o
conhecido “plantar bananeira” (ato de ficar de cabeça para baixo com o corpo
equilibrado sobre as mãos), ao som musical do rock and roll, movimentava os
seus pés, girando à volta num tipo rodopio. Porém, completamente fora de
sincronismo.
A gente com semblante de “zé
mané” ficamos perplexos com a cara de pau do travestido artista, por
sua encenação ridícula, feia, grotesca e caricata.
Acho não, tenho certeza, que o
indefectível Mário se arrependeu do dia que nasceu quando vislumbrou a ideia de
produzir esse “espetáculo”. Choramingou com medo de morrer, diante da fúria do
pessoal (público). Pense no “arranca-rabo” em que se meteu.
O tumulto foi geral. Como não
bastassem as sonorizadas vaias, todos exigiam a devolução do dinheiro pago
pelos ingressos. Tanto o apresentador e o tal Mário estavam mais perdidos que
cego em tiroteio.
Um verdadeiro furdunço! O local
estava mais parecendo o estádio La Bombonera, do argentino Boca Juniors, em dia
de clássico.
Entre mortos e feridos. Farpas
e venenos. Não deu outra, tiveram que chamar a polícia. Não sei o desfecho, Só
sei que não fui ressarcido do dinheiro pago pelo tão aclamado show que, por um
momento, cismei surfar na onda do som irreverente, quase insano, de Litte
Richard (Tutti Frutti), combinado com a perfeita coreografia magistral dos
passos de Fred Astaire e Gene Kelly.
LINCOLN CARTAXO DE
LIRA
Advogado, administrador e escritor
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