Talvez o tema não chame muita atenção,
pelo fato de ser uma prática comum da paisagem de nossa vida cotidiana. Cuja
regra: é a imposição do conveniente sobre o certo. É o tal pragmatismo
tupiniquim: se dá certo é certo, sendo que, “dar certo”, equivale a resolver
meu problema, ainda que provisoriamente.
Podemos até dizer que é quase
impossível viver no Brasil sem ter que frequentemente dar um jeito em alguma
coisa. Será que esta realidade realmente não pode ser mudada? Será que ainda é
possível dar um jeito no jeitinho?
O jeitinho é sempre uma forma especial
de resolver algum problema ou uma situação difícil ou proibida. A solução exija
uma forma especial, eficiente e rápida de tratar o problema. Não serve qualquer
estratégia. Ela tem de produzir os resultados desejados a curtíssimo
prazo... não importa se a solução encontrada é definitiva ou não,
ideal ou provisória, legal ou ilegal.
O nosso divertido “jeitinho” está
associado à malandragem, a favorecimento, a corrupção. Comumente o brasileiro
reage bem à vida adaptando-se a situações difíceis, “somos o povo mais plástico
do mundo... damos um jeito em tudo”. Diz um adágio que, para o
norte-americano, se alguma coisa não funcionar direito, consulta-se as normas.
Para o brasileiro, se alguma coisa não funcionar, dá-se um jeito, afinal tem de
dar certo de um jeito ou de outro.
O jeito, segundo o professor de
teologia Lourenço Stelio Rego, é a síntese do caráter brasileiro e tornou-se
uma estratégia que se espalhou pela sociedade e se fixou na vida do povo como
alternativa ética diante do sistema de normas estabelecido.
Para alguns, ele é percebido e
reconhecido longe de ser algo escuso, embaraçoso. O jeitinho é admitido,
louvado e condenado, que gasta mais energia mental do que emocional na busca da
solução ou da saída de uma situação opressiva ou indesejável.
No “bê-a-bá” da questão, ele já faz
parte do brasileiro e contagiou a brasilidade. Diante do jeito não há sacrário
que resista, nem placa “entrada proibida” que não provoque a política do “vai
se quebrar o galho pra você”, “a gente se vira”, “vai se dar um jeito”, “não há
problema”, “isso é apenas formalidade”, “por baixo dos
panos”.
Apesar de tudo, o jeito não pode ser
visto só pelo lado negativo. Ele pode ser ambivalente, isto é, servir tanto
para o bem quanto para o mal. Serve para alguém se livrar da norma, “quebrar o
galho”, mas serve também para trazer benefícios numa situação difícil ou
inesperada, através da sua inventividade e criatividade.
Quando é para fugir das crises, lá vem
o jeitinho – o brasileiro é um perito inventar profissões: guardador de carros,
cambista de ingressos, vendedor de lugar na fila, carregador de bolsas na
feira-livre, mula para atravessar fronteira.
Mas o lado triste do “jeito ou
jeitinho” é quando àquele se acha que a lei não foi feita para ser
obedecida. Seja burlando alguma regra ou norma preestabelecida, seja
sob forma de conciliação, esperteza ou habilidade. Aí é quando ocorre o perigo
da união incestuosa entre o jeito e a corrupção.
Logo, para que se dê um “jeito no
jeitinho” o país tem que dá um exemplo de “decência”. CHEGA de autoridades (pop
star) infratores da lei, de impostos em excesso, hospital gratuito mais parece
açougue, aposentadoria até parece piada e escola oficial oferecendo ensino
péssimo, quando não está em greve. E MAIS: a pessoa precisa sobreviver,
não consegue emprego e não tem condições de legalizar uma
firma. Lamentavelmente, não há saída, a não ser passar por cima da
lei e dar vazão ao espírito libertador para sobreviver.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado, administrador e escritor
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