Ao
entrar numa loja que vende móveis usados, localizada na nossa tradicional rua
da República, fui tomado de surpresa quando vi, isolada no canto, uma antiga e
surrada máquina de escreve Olivetti. Pronto. Nostalgia estava no ar.
Vasculhando minha memória, lembrei,
ainda adolescente, à época, a datilografia era requisito básico para a obtenção
de um emprego em escritórios, bancos, concursos etc. E para aprender a ter a
velocidade no uso dessa máquina de escrever sem olhar para o teclado, e sim
apenas para o papel, era necessário recorrer às escolas especializadas, onde os
cursos treinavam, por repetição, o futuro datilógrafo, condicionando-o a
teclear sem olhar as letras. Só, então, era possível tirar o ambicioso diploma.
A argúcia saudosista persistia. Naquele
tempo eu já começava a ter ideia que a vida não é tão arrumadinha como a gente
gostaria. Sendo mais prático: o mundo não tem doçura, não tem paciência, não
para para ouvir. Apesar dos percalços, o curso de datilografia era o início de
tudo para quem quisesse conquistar um bom emprego.
Certo dia, lá pelo o início da
década de 70, a escola de datilografia que eu frequentava na rua Barão do Abiaí,
quase em frente à Superintendência do INSS, ouvi um diálogo entre dois colegas
mais ou menos assim:
-Quer saber de uma coisa? Para mim
chega. Tô fora!
-Também não dá para continuar
batendo nessa máquina.
-É coisa de doido. Vou terminar
tendo um “piripaque” de raiva.
-Pode crer. Estou indo embora.
Tchau!
Exagero na dose (de manifestação)!
Contudo, mesmo sabendo da precariedade das máquinas do tipo Remington,
Olivetti, Hermes Rocket, instaladas nessa modesta escolinha, não impedia que
atingíssemos os nossos objetivos. Neguinho para pegar uma máquina em bom
funcionamento tinha que chegar às aulas mais cedo. Ficava ali cochilando,
sentado na recepção, aguardando a minha vez para dar início ao meu aprendizado.
Por outro lado, a professora, com
ares de durona, não dava espaço à conversa fiada: “Vamos lá, turma! O tempo está
esgotando”. Cá entre nós, pense no sufoco. Seria risível se não fosse trágico.
O processo era simples: digitava-se,
por exemplo, as letras “A”, “S”, “D” e “F” com dedos mindinho, anelar, médio e
indicador respectivamente. Nada de usar só o indicador nem olhar para as
teclas! Depois eram feitos exercícios com todas as outras letras, sempre
utilizando a técnica da memorização. Em seguida vinham as palavras, concluindo
com o ditado ou cópia dentro de um prazo pré-estabelecido.
O fim das escolinhas de datilografia
decorre das ideias avançadas, costumes avançados, tecnologias avançadas: tudo
em nome do mundo da informática.
LINCOLN
CARTAXO DE LIRA
Advogado,
administrador e escritor
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