Quase
trivial: num dos semáforos da Av. Ruy Carneiro depararmos com crianças tentando
imitar alguma técnica circense, visando obter para si algumas parcas moedinhas.
E sob o olhar pidão e triste ficamos até embatucado diante da campanha institucional:
“Não dê esmola, dê oportunidade”.
Lembro-me bem, e parece ter sido
ontem, ao ver uma dessas crianças se contorcendo com uma danada de coceira sem
fim, traz à memória, lá pelos meus 12 anos, na cidade de Cajazeiras, quando fui
apanhado por um surto dessa “coçagem”, chamada estranhamente de curuba (afecção
cutânea contagiosa, parasitária).
Tal coceira era de um efeito tão
inusitado e devastador. Começou pelas coxas, depois passou para as virilhas,
espalhou-se em direção às nádegas, dando uma escapada para os órgãos genitais.
Verdade, quem me via se coçando caia
na gargalhada. Falava: “E aí meu irmão, o que está acontecendo?”. Hoje, vejo que o velho Ataulfo Alves tinha
mais do que razão. A maldade dessa gente é mesmo uma arte.
Não se tratava, portanto, de uma
comichãozinha qualquer. Na viagem pela parte anterior do tórax era uma fricção
intensa, que me levava a chorar e a se coçar até se ferir e sangrar.
Mesmo submetendo-me a um rigoroso
tratamento com ervas medicinais, entre elas o sumo das folhas do melão Caetano,
continuei travando (por dias) aquele combate inútil (em que pese o hercúleo
esforço) entre o desejo de não sofrer e a vontade louca de se coçar, mais
parecendo uma volúpia compulsiva.
-Eeeiiita!!! Onde você pegou isso,
meu filho??? – Perguntou assustada a minha querida mãe, dona Aila.
Essa questão vagueava no
inconsciente. Quando de repente, assim mesmo, não mais que de repente,
recordei-me que no dia anterior um “fator extra-campo”, como se evoca no
futebol, ao participar de uma tradicional pelada, no decorrer da partida, tive
o meu calção rasgado, e para continuar jogando recorri ao meu coleguinha de
turma chamado Griguilim (apelido) para que ele me emprestasse o seu calção. Na
hora, gentilmente, fui atendido. E ele ficou com o meu, enquanto terminava a partida.
À guisa de registro, o nosso
Griguilim, de estatura diminuta para sua idade, desengonçado, figura
carismática que, em vão, procurava dar um show de acrobacia, como mascote, à
frente de nossa banda marcial do colégio Monsenhor Constantino Vieira. Pois,
antes de começar o desfile a todos os pulmões berrávamos o Hino da Bandeira.
Voltando à curuba. E pelo que ainda
consigo lembrar, foi, sim, o inesquecível e terrível calção que me provocou
todo esse aperreio de nitroglicerina pura.
Em tempos liberais e modernos, era
interessante que ocorresse um pequeno surto dessa coceira na casa do Big Brother,
a fim de satirizar já o debochado ambiente. Como diria aquele colunista
estonteado: “Seria uma loucuuuuura!”.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado, administrador e escritor
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