Vivemos
tempos de insanidades catastróficas. Digo isso porque, na semana passada,
reportagens mostram que uma menina de dez anos foi levada a um hospital no
Espírito Santo, onde foi descoberta a sua gravidez. Segundo inquérito aberto
pela polícia estadual, a criança sofria abusos de um tio havia quatro anos.
Infelizmente, nossas autoridades
apontam a pedofilia como o mal maior, mas, na hora que ela se configura, fazem
de tudo para olhar para o outro lado. Esquecem que o atendimento psicológico e
social de crianças nesta situação é um direito garantido pelo Estado.
Depois de olhar e mais olhar,
reparei que o caso da menina de dez anos é um prato cheio para o
sensacionalismo. Tendo a extrema direita, religiosos conservadores e políticos
ávidos de holofotes transformam esse caso numa espécie de circo de horrores.
Não dá, é uma aberração! Discutir a
interrupção da gravidez sob uma perspectiva religiosa ou moral e não como uma
questão de saúde pública. Ah, faça-me um favor! Não dá para engolir essa
conversa mole.
Sem tirar nem pôr, no Brasil,
segundo dados oficiais, seis meninas entre 10 e 14 anos estupradas são
internadas por dia em decorrência de abortos, promovido ou não no hospital. Já o
aborto ilegal é uma das maiores causas de óbito entre mulheres grávidas, algo
que atinge principalmente as pobres e negras.
Os especialistas alertam: a criança,
normalmente, é abusada por alguém próximo, por isso, precisa saber diferenciar
o toque do cuidado com o toque do abuso para que no primeiro sinal ela consiga
relatar o ocorrido.
Muito triste o nome de Deus ser
usado para defender uma nova atrocidade contra uma criança que foi e continua
sendo vítima. Ora, gostaria de saber se a indignação da CNBB e de outros moralistas
de plantão contra o aborto de uma criança se teria o mesmo comportamento em
relação à pedofilia na igreja.
“O espírito é como um paraqueda. Só
funciona bem quando está aberto”. Essa é a recomendação que se deve fazer hoje
aos que vêm conduzindo, com tanta imprudência, a questão do estupro/aborto.
Negar o aborto a uma criança de dez
anos que sofreu estupro de um tio é uma regressão ao horror hediondo. É uma
tese: inculta, grossa, violente e idiota.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado, Administrador e Escritor
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