O
mundo, nos últimos tempos, não aceita mais tão bem a figura do Homem com H maiúsculo
que até outro dia nos era familiar: o pai provedor da casa, o chefe, o líder
inconteste.
O homem dividindo as tarefas
domésticas com as mulheres, ou assumindo papéis outrora femininos, algo hoje
comum em certos extratos, ainda causam estranheza no Brasil. Ora, se no Japão e
na Coréia do Sul a licença-paternidade se estende por até 52 semanas, no Brasil,
que concede cinco dias (em casos especiais, 20), a conversa é mais embaixo, e
qualquer avanço nesse campo parece virar uma indesejável “questão de gênero”.
Estudos mostram que os homens com
menos capital intelectual são tradicionalmente mais machistas. Se esse homem
não consegue se afirmar dentro da sociedade, tem dificuldade para ter uma
relação mais igualitária em casa. Mas quando adquirem esse capital intelectual,
tornam-se mais dispostos a compartilhar a vida doméstica.
É evidente que muitos progressos
houve, já que os espaços de liderança nos negócios e na vida pública que a
mulher galgou eram claramente impensáveis décadas atrás. Por outro lado, o homem
passou a ser parceiro nas atividades domésticas, contribuindo assim para que a
mulher tivesse mais tempo e liberdade para explorar a sua capacidade
profissional. Sem dúvida, um ato digno.
Particularmente, vivenciei essa
experiência há pouco tempo quando visitei a minha filha que reside na
Austrália. Além de praticar algumas atividades domésticas (simples) - como
arrumar a casa, irrigar o jardim, levar o meu neto Adam à creche -, o que mais me
fascinava era olhar ele dormindo, como se fosse uma imagem religiosa. E quando
despertava (chorava) estava eu lá para fazer um carinho para que continuasse
dormindo e sonhando com os anjos.
A verdade é que abandonei a zona de
conforto e fiz algo que até então desdenhava e que achava não ter destreza
adequada. Ledo engano. Basta vontade para tanto e paciência. Tal experiência me
fez mais partícipe da minha família, mostrando-me que o seio da família ainda é
o melhor laboratório do amor.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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