Na
minha infância, levávamos uma vida modesta, o dinheiro mal dava para tapar os
buracos do orçamento. Mas não existiam limites para nossos sonhos, pois bastava
acreditar.
Confesso: sonhava até acordado.
Mesmo cônscio da realidade dos ensinamentos de meus pais de que não deveríamos
reclamar dos problemas da vida, e ser pobre é um estado mental. Estar sem
dinheiro é apenas uma situação temporária. E que no fundo, no fundo mesmo, traduzia-se:
“É de que a gente não é pobre, apenas sem dinheiro” (Mike Todd).
Outro dia, olhando uma foto de
Charlton Heston, o ator mais importante da minha infância, cuja figura sonhava
ser quando adulto, foi protagonista de superproduções de Hollywood, onde ele se
notabilizou no cinema em papéis heróicos como Moisés de “Os Dez Mandamentos”,
Judah Bem-Hur de “Bem-Hur”, o lendário cavaleiro espanhol El Cid no filme
homônimo.
Como muitos de seus personagens eram
bíblicos ou históricos, ele vira e mexe chegava ao fim da trama com cabelos
grisalhos e barba branca, exatamente como eu estou agora. Acho, só achismo,
finalmente consegui a cara de homem que queria ter quando era menino. É como se
os nossos desejos infantis sobrevivem em nós a vida inteira.
Sim. Continuo mesmerizado em sonhar.
Até pela percepção que eu tenho da vida: que é uma corrida longa que só termina
na linha de chegada. Hoje me olho no espelho e me acho mais bacana do que me
achava aos 30 ou aos 40 anos de idade, com rugas e tudo. Para minha consorte e
meus filhos, eu melhorei com o tempo. Para mim, não tenho que reclamar.
Como não estou nem aí para preconceito,
posso me regozijar abertamente com a minha aparência de jovem senhor. E que a minha
barba branca, mais do que nunca, continua a marca do personagem hollywoodiano
que um dia sonhei.
LINCOLN
CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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