quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

O bom-mocismo


            Outro dia conversava pelo facebook com um velho amigo de labuta, época (1972-1977) em que trabalhamos juntos na CICLO-Cia.Brasileira de Serviços Fiduciários, organização pioneira no Brasil na prestação de serviços do Crédito Direto ao Consumidor, e pela qual me deu régua e compasso para o meu aprendizado profissional.
            Ao surfar nessas reminiscências, o referido amigo lembrou-se de certo instrutor que veio do Rio de Janeiro para a nossa filial de João Pessoa, com a incumbência de nos preparar para a realidade do mundo corporativo: teoria e experiência prática.
            Tal instrutor, de 60 anos, irônico, sardônico e bom-mocismo, ficou gravado na minha memória. Quase enfartei aos 17 anos de idade com as atitudes desse cara. Fugia do assunto e divagava em suas preleções. Virou um clichê intragável.
            Ademais, se envaidecia em nos dizer que era oficial reformado da Marinha. Por isso as suas exigências extremas: tínhamos que estar bem engravatados, barba feita, unhas e dentes extremamente bem cuidados, cabelos cortados como militar, penteado bem fixado e sapatos impecavelmente engraxados. Aos empregados mais graduados, terno de três peças sob medida.
            Foi um baita problemão termos que cortar os cabelos, uma vez que era a marca da nossa juventude. Quem não cumpria essa exigência era automaticamente demitido, levando consigo ainda o estereótipo de playboy. Esquecia ele que essa figura, então rotulada, era também o símbolo da tolerância, da inteligência e da modernidade entre os jovens.
            Em um estalo de sensibilidade, eu tive um palpite: de que tudo não passava de uma baboseira autoritária para nos intimidar. Comportamento aparentemente amalucado e desnecessário.
            De montanha-russa, basta a vida. Jamais, hoje, permitiria esse tipo de prática. Às favas com o bom-mocismo.

                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                         Advogado e mestre em Administração
           

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