Quando
eu era muito pequeno, me ensinaram a ler e a respeitar os livros. Até mesmo
deixar uma xícara de café em cima de um livro era considerado um pecado. O
livro era reverenciado como se fosse um texto religioso.
Até hoje só grato por tais
ensinamentos. Esse sentimento é cada vez mais revelador quando li recentemente
o livro “Copacabana – A trajetória do samba-canção (1929-1958), do escritor,
instrumentista e jornalista Zuza Homem de Mello. Cujo autor dispensa
apresentação, sendo um dos maiores conhecedores da MPB.
Um das características emblemáticas
de sua obra é que ele presenciou pessoalmente muito do que consta no referido
livro, e isso dá um sabor todo especial a sua escrita. Faz isso sem nenhum traço
de falsa modéstia. Para os leitores, é como se um velho amigo estivesse
confidenciando algo que testemunhou e vivenciou.
Em suas confissões e memórias, Zuza
consegue a proeza de nos fazer reviver toda uma época (de baladas de amor e dor
de cotovelo) do Rio de Janeiro, como se estivéssemos lá com ele, tomando banho
e sol na praia mais famosa do mundo, passando no calçadão, indo ao cinema no
Rian, assistindo a um show no Casablanca, tomando um uísque no Vogue ou cavando
um convite para o Baile dos Cafagestes.
O livro é simplesmente primoroso, principalmente
quando aborda a vida de todos os principais compositores do gênero samba-canção
e suas obras, como Ary Barroso, Noel Rosa, Herivelto Martins, Dorival Caymmi, Lupicínio
Rodrigues, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Maysa, Aracy de Almeida, Luiz Bonfá
e outros.
Interessante: toda essa produção
artística na época foi registrada em discos de 78 rotações e nos primeiros LPs
brasileiros de dez polegadas, executado ao vivo nas boates de Copacabana com
uma singular cumplicidade da sociedade carioca.
O citado livro merece louvor. Uma
bela obra, condensada e explicativa. Sugiro a leitura para todos os admiradores
pela história da boemia no Rio e da música samba-canção.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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