Estou
convencido, cada vez mais, com o passar dos anos, que o “jeitinho brasileiro” é
uma moeda corrente para se conseguir transitar no cotidiano de quase todo
brasileiro.
Abundam os exemplos dessa prática
tupiniquim. Do cara que não pensou duas vezes e pagou indevidamente sua
carteira de motorista, quando soube que foi reprovado no exame prático. Aquele,
para não ficar sem os jogos de futebol aos domingos, comprou um aparelho
desbloqueador de sinais de TV a cabo, o famoso gato. Outro que falsificou a
carteirinha de faculdade para continuar pagando meia-entrada em eventos.
A estridência dessa realidade deixa
uma interrogação no ar: até que ponto, estamos sendo responsáveis pela onda de
corrupção espalhada por este Brasil afora? É um sintoma preocupante de que algo
está errado com o nosso modelo de comportamento. Daquilo que já passou a ser
hábito: “Ah, dá um jeitinho”.
Curioso, no entanto, críticos
ferrenhos da corrupção na esfera pública, porém tentando se dar bem no âmbito
privado, com suas pequenas corrupções. Pior: é tratado com um eufemismo
socialmente aceito, chamado docilmente de “jeitinho” – que nada mais é do que
burlar a lei.
Não é por acaso, ao avaliar a
relação do brasileiro com as leis, a pesquisa constatou que 81% dos
entrevistados afirmaram que, sempre que possível, escolhem dar um “jeitinho” em
vez de seguir as normas. Reflexo disso é que existe o eleitor brasileiro que
nutri o exemplo do político que “rouba, mas faz algo por mim”. Infelizmente é
esse patrimônio de gratidão que ajuda a manter certos agentes políticos à
frente nas pesquisas de intenção de votos.
Percebe-se que temos que continuar
persistindo como povo em vencer os velhos estigmas de nossa cultura. Ser ético
sem deixar de ser brasileiro, ou melhor, dando um Jeito no Jeitinho.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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