Já disse várias vezes, aqui neste
espaço, que sou um otimista contumaz. Mas nem sempre é fácil ter essa percepção
à dura prova da realidade que ora passa a economia no Brasil, sobretudo quando
vejo o relato feito por um dos mais lendários financistas do País, Luiz Cezar
Fernandes.
Com seu jeito despojado e sem papas
na língua, ele diz que o Brasil pode estar caminhando para um calote da dívida
interna. Não é suportável com os níveis de taxa de juros. Se o Banco Central
reduzisse a taxa Selic para algo em torno de 5% ao ano, nada aconteceria com a
inflação. Criticou ainda o rentismo da economia brasileira, que criou uma
sociedade de pessoas que vivem de juros, e não da produção. Olha quem está
falando isso é um banqueiro, que fundou instituições como Garantia e Pactual.
Na sua visão, a situação brasileira
é mais grave do que da Grécia e a necessidade de ajuste fiscal pode vir a ser
muito maior. Ele cita o exemplo de Portugal, em que salários de servidor
público chegaram a ser reduzidos em cerca de 30%.
Tenho que reconhecer que a nossa
situação é de urgência. O milagre do crescimento exponencial das receitas,
pressupostos para o atendimento do conjunto das demandas, não ocorreu. Apesar
de alguns modestos sinais de melhoria da economia, a crise continua braba. Uma
verdade indigesta, infelizmente.
Para quem já queimou os fusíveis,
como eu, ainda tento entender o vaivém da nossa política monetária. É
insuportável a dívida brasileira com esses níveis de taxa de juros. Não tenho
curso de leitura de mãos, mas está na cara que se for mantida a trajetória
atual de juros, um calote da dívida é inevitável.
Com toda franqueza, com essa
recessão desenfreada e com a inflação abaixo da meta (sob controle), não
podemos perder tempo mais uma vez, aceitando outro ciclo de inércia, de
incompetência exacerbada, atraso deliberado, ganância bancária...
Como diz um bordão de um programa
humorista: “E o povo, ó...”.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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