quarta-feira, 15 de junho de 2016

Tensão em Brasília

            Brasília, a cidade que não dorme mais. Como dormir? Se quase todos os dias são registrados relatos de falcatruas para tudo que é lado. Mais espantosa é a incomum vivacidade criminosa dos envolvidos nessas tramas escabrosas. E até invejo. Inveja da interpretação cirúrgica feita para essa situação lastimável: a única certeza é a incerteza.
            Os políticos, agora, passaram a fechar cortina dos gabinetes, a esconder celulares e tirar o paletó contra grampos. O medo de gravação e monitoramento de atividades também mudou o conteúdo das conversas dos políticos. E contar segredos, nem pensar.
            Como história é memória, aí então, vem àquela conversa de um eleitor de São João Del Rey que procurou Tancredo Neves aflito:
            - Tancredo, vou contar um segredo ao senhor. Mas é só para o senhor.
            - Não conte, não, meu filho. Se você, que é o dono do segredo, não é capaz de guardá-lo, imagine eu.
            Pois é. Na cidade de Brasília as autoridades de todas as esferas de poder, Executivo, Legislativo e Judiciário, estão em estado de permanente tensão. A julgar pelo padrão de delações junto à Lava Jato, a situação tende a piorar.
            A cada etapa da Lava Jato, estica o olhar não só para o mar de lama em que se transformou o cenário político brasileiro, mas também as explicações estapafúrdias apresentadas por quem é pego com a mão na massa, ou seja, com a voz na gravação. Como, por exemplo, bravatas, diálogo descontextualizado e até com justificativa de quem foi atingido por certa patologia, do tipo “miolo mole”. Haja cinismo. Haja descaramento.
            Analistas da praça, diante das deleções que estão vindos a público, já se discutem a possibilidade de fim de governo Temer, com apreensão. Isso em razão da falta de alternativas imediatas. Ora, as delações da Odebrecht e OAS, se homologadas, deixarão um cenário de terra arrasada comparável ao de uma bomba atômica. No caso particular de Marcelo Odebrecht, se ele contar tudo que sabe, os grampos de Sérgio Machado serão historinhas de ninar face às revelações bombásticas.
            Estamos carecas de saber que essas figuras carimbadas da política não são capazes de fazer uma autocrítica verdadeira, purificar-se da lama em que se meteu e voltar ao palco do debate de ideias. Confesso: eles perderem de vez o pudor de ser picaretas.
            Enfatizo: enquanto o povo brasileiro não aprender a votar e continuar elegendo figuras patéticas e desonestas como nossos representantes, só nos resta confiar na Justiça e que Brasília passe a dormir em paz.


                                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                            lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                             Advogado e mestre em Administração

           
           
           

            

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