Brasília, a cidade que não dorme
mais. Como dormir? Se quase todos os dias são registrados relatos de falcatruas
para tudo que é lado. Mais espantosa é a incomum vivacidade criminosa dos
envolvidos nessas tramas escabrosas. E até invejo. Inveja da interpretação cirúrgica
feita para essa situação lastimável: a única certeza é a incerteza.
Os políticos, agora, passaram a
fechar cortina dos gabinetes, a esconder celulares e tirar o paletó contra grampos.
O medo de gravação e monitoramento de atividades também mudou o conteúdo das
conversas dos políticos. E contar segredos, nem pensar.
Como história é memória, aí então,
vem àquela conversa de um eleitor de São João Del Rey que procurou Tancredo
Neves aflito:
- Tancredo, vou contar um segredo ao
senhor. Mas é só para o senhor.
- Não conte, não, meu filho. Se
você, que é o dono do segredo, não é capaz de guardá-lo, imagine eu.
Pois é. Na cidade de Brasília as
autoridades de todas as esferas de poder, Executivo, Legislativo e Judiciário,
estão em estado de permanente tensão. A julgar pelo padrão de delações junto à
Lava Jato, a situação tende a piorar.
A cada etapa da Lava Jato, estica o
olhar não só para o mar de lama em que se transformou o cenário político
brasileiro, mas também as explicações estapafúrdias apresentadas por quem é pego
com a mão na massa, ou seja, com a voz na gravação. Como, por exemplo,
bravatas, diálogo descontextualizado e até com justificativa de quem foi atingido
por certa patologia, do tipo “miolo mole”. Haja cinismo. Haja descaramento.
Analistas da praça, diante das
deleções que estão vindos a público, já se discutem a possibilidade de fim de
governo Temer, com apreensão. Isso em razão da falta de alternativas imediatas.
Ora, as delações da Odebrecht e OAS, se homologadas, deixarão um cenário de
terra arrasada comparável ao de uma bomba atômica. No caso particular de
Marcelo Odebrecht, se ele contar tudo que sabe, os grampos de Sérgio Machado
serão historinhas de ninar face às revelações bombásticas.
Estamos carecas de saber que essas
figuras carimbadas da política não são capazes de fazer uma autocrítica
verdadeira, purificar-se da lama em que se meteu e voltar ao palco do debate de
ideias. Confesso: eles perderem de vez o pudor de ser picaretas.
Enfatizo: enquanto o povo brasileiro
não aprender a votar e continuar elegendo figuras patéticas e desonestas como
nossos representantes, só nos resta confiar na Justiça e que Brasília passe a
dormir em paz.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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