A maior estrela da bossa nova, João
Gilberto, acaba de completar 84 anos. Um vídeo postado na internet mostra esse
talentoso artista em seu apartamento no Leblon, usando um surrado pijama de xadrez,
acompanhando ao violão sua filha Luisa Carolina, de nove anos, canta a famosa
canção “Garota de Ipanema”.
Os jovens que assistem ao vídeo, não têm
ideia quem foi esse cara que, em 1958, há 57 anos, inaugurou um novo estilo
musical, com uma batida diferente no violão, cantando baixinho, de forma sussurrada,
deixando para trás aquelas interpretações bonitas, muitas vezes exageradas, dos
cantores de voz potente que imperavam na música brasileira. Criando, assim, uma
sonoridade original e única. Deixando boquiabertos e encantados todos os que
possuem sensibilidade aguçada e bom gosto musical. Confesso: virei seu fã de
carteirinha.
Afastado completamente dos palcos e
dos discos, vive solitário em seu apartamento. Quando se dirige a alguém, fala
com uma franqueza assustadora e quase rude. Pode ser a forma encontrada de se
despir, de eliminar o que não é essencial. Levando-o a ficar triste, isolado,
deprimido ou zangado. A imprensa vulgar, por sua vez, não o perdoa, criando um
ambiente de fofoca, maledicência, hipocrisia e outras práticas espúrias que
denigrem a imagem do ser humano. Não aceito, não consigo aceitar.
Não é preciso ser nenhum Sigmund
Freud para testar que somos animais sociais e o desejo de conexão com os outros
é um impulso forte e inato. Não fomos feitos para viver isolado, e trabalhamos
duro para ser socialmente aceitos. Principalmente tratando-se de João Gilberto
que é uma lenda da nossa cultura musical.
Quem não se lembra do filme
“Náufrago”? O personagem de Ton Hands sofre um acidente de avião e vai parar em
uma ilha no Pacífico Sul. Ele vive ali sozinho por vários anos. Ao encontrar
uma bola de vôlei que é trazida pelas ondas, pinta sobre ela um rosto e passa a
conversar com o objeto. Como a bola é de marca Wilson, ele acaba chamando seu
“amigo” de Wilson. Sem pessoas reais com quem interagir, ele precisou criar
alguém.
É... Mas, seja como for, vamos é ter
orgulho de João Gilberto, ter inveja, jamais fazer chacota. A esta altura (da
sua idade), nada soaria mais respeitoso aceitá-lo como é: recluso.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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