domingo, 19 de julho de 2015

Frequência escolar do menor

       O discurso sobre a Redução da Maioridade não me convence mesmo após a aprovação na Câmara de proposta que diminui de 18 para 16 anos a maioridade para crimes considerados graves, como homicídio doloso (com intenção de matar). O texto ainda precisa passar por novas votações.
            Esse resultado foi justificado pelo deputado Eduardo Cunha em razão do clamor popular demonstrado pela pesquisa Datafolha que aponta 87% dos brasileiros favoráveis à diminuição da maioridade. Dá pra sacar, sem subliminares, que muitos deputados voltaram essa proposta apenas para agradar a galera. Pode ser “uma alegria fugaz”, como avisara Chico Buarque.
            Devo confessar que a vontade popular tende a reclamar a redução da maioridade penal, assim como aceitaria a pena de morte e outros agravamentos de pena, criação de mais tipos penais, tudo como forma de responder à sensação de impunidade.
            Como diz o meu velho amigo Cordeiro, sempre jovial e bonachão: “Já conhecemos a problemática. Estamos atrás da ‘solucionática’”. Essa sua manifestação toca na ferida da absoluta falta de uma política pública no País. Pois o problema do menor é o maior de idade. Negligenciamos os direitos das crianças desde pequenas, que nascem em hospitais precários, crescem sem alimentação adequada, sem educação doméstica e têm sua formação alterada e seus direitos constitucionais roubados por aqueles que deveriam dar sustentação para  que viessem a ser um cidadão.
            Ousemos perguntar: Aprovada a proposta da Redução da Maioridade (que fatalmente será aprovada), para aonde serão encaminhados os adolescentes-infratores? Nos presídios abarrotados de pessoas que entram graduadas e saem com doutorado em novos crimes?
            A verdade “nua e crua” é que o Estatuto da Criança e do Adolescente ainda é um instrumento eficaz para reeducar e ressocializar o jovem infrator. Reconheço que o ECA precisa ser revisto e adaptado à realidade. Um bom começo seria ampliar o prazo de internação compulsória, caso o crime e circunstâncias, a arbítrio do juiz, justificassem tal extensão.
            Especialistas em crime e em educação, através de pesquisas, mostram que o aumento da escolaridade favorece a queda da criminalidade. A maior frequência escolar diminui as chances de envolvimento com a violência, pois limita o tempo passado na rua e aumenta a perspectiva de renda futura.
            Deve haver punição ao menor infrator, mas diferente da punição de um adulto. Ambas devem ter, como objetivo principal, a reabilitação. O que deveria ser discutido mesmo é a educação e as oportunidades para os jovens. Isso, sim, solucionaria o problema da violência.


                                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                          Advogado e mestre em Administração


            

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