domingo, 10 de novembro de 2013

Reforma de apartamento

       Se você está pensando em fazer uma reforma em seu apartamento, então procure, desde logo, se mudar de “mala e cuia” para outro lugar, se possível, bem distante, até concluir a tal empreitada. Ainda que seja simples. À raça dos sossegados de nascença te aconselha.
            Mesmo que o profissional seja gabaritado: à frente das tendências, das inovações, tecnologia e comando do planejamento e das ações na obra. Assim mesmo, são inevitáveis os transtornos. O epicentro está na poeira, nos entulhos, na desarrumação da mobília, na barulheira, no entre sai de gente (operários, vendedores e agregados). Sem falar das queixas que podem advir dos vizinhos e, notadamente, do síndico. Vexação total. Poderia ficar aqui a desfiar um rosário de outras broncas, mas não vale à pena.
            Na verdade, estou tentando me convencer, aliás, já me convenci que será a última a reforma que fiz recentemente em meu apartamento. Ou melhor: dos meus projetos, iguais a este, vai estar certamente no final da fila. Ademais, como diria Manuelzão, personagem imortalizado na obra de Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas): “A gente tá na vida emprestado...”. A qualquer hora Deus poderá nos chamar. E aí?
            Calma. Apesar dos pesares, tem um pequeno lado bom dessa reforma que a gente termina encontrando certos objetos de estimação que há muito tempo sentíamos falta, como é o caso do meu prazeroso CD “Paul Mouriat – Gold Concert”. Entre seus maiores sucessos, os mais conhecidos são “L’Amou est Bleu”, “El Bimbo” e “Penelope”. Porém, a canção brasileira “Manhã de Carnaval” é a que mais me fascina e me comove pela qualidade exuberante dos arranjos. Até um livro de Neruda, que Chico Buarque tão bem retratou na canção “Trocando em Miúdo”, para minha sorte, achei na minha biblioteca desarrumada depois de longos anos à sua procura.
            Essa mania moderna de investir em coisas materiais é enervante e nos desloca, muitas vezes, do essencial. Vivemos focados na miragem de resultado, da vaidade, do status social e do êxito a qualquer preço. Entretanto, sabemos que esse “bem-estar social” não é sinônimo de felicidade interior.
            Em minha opinião, nos desperdiçamos toda vez que confundimos o acessório com o essencial. E o essencial é que possível mudar o mundo se olharmos para ele de outra maneira e não deixarmos tocar por aquilo que, na verdade, não interessa.
            Às vezes penso que o mundo quer que a gente ande na moda, que a gente troque de carro, que a gente tenha boa aparência, que a gente troque de apartamento e estoure o cartão de crédito. Enfim, o mundo nos impõe todo tipo de vaidade, mas não quer atender nossas necessidades.

LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

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