Se
você está pensando em fazer uma reforma em seu apartamento, então procure,
desde logo, se mudar de “mala e cuia” para outro lugar, se possível, bem
distante, até concluir a tal empreitada. Ainda que seja simples. À raça dos
sossegados de nascença te aconselha.
Mesmo que o profissional seja
gabaritado: à frente das tendências, das inovações, tecnologia e comando do
planejamento e das ações na obra. Assim mesmo, são inevitáveis os transtornos.
O epicentro está na poeira, nos entulhos, na desarrumação da mobília, na
barulheira, no entre sai de gente (operários, vendedores e agregados). Sem
falar das queixas que podem advir dos vizinhos e, notadamente, do síndico. Vexação
total. Poderia ficar aqui a desfiar um rosário de outras broncas, mas não vale
à pena.
Na verdade, estou tentando me
convencer, aliás, já me convenci que será a última a reforma que fiz
recentemente em meu apartamento. Ou melhor: dos meus projetos, iguais a este, vai
estar certamente no final da fila. Ademais, como diria Manuelzão, personagem
imortalizado na obra de Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas): “A gente tá na
vida emprestado...”. A qualquer hora Deus poderá nos chamar. E aí?
Calma. Apesar dos pesares, tem um
pequeno lado bom dessa reforma que a gente termina encontrando certos objetos
de estimação que há muito tempo sentíamos falta, como é o caso do meu prazeroso
CD “Paul Mouriat – Gold Concert”. Entre seus maiores sucessos, os mais
conhecidos são “L’Amou est Bleu”, “El Bimbo” e “Penelope”. Porém, a canção
brasileira “Manhã de Carnaval” é a que mais me fascina e me comove pela
qualidade exuberante dos arranjos. Até um livro de Neruda, que Chico Buarque
tão bem retratou na canção “Trocando em Miúdo”, para minha sorte, achei na
minha biblioteca desarrumada depois de longos anos à sua procura.
Essa mania moderna de investir em
coisas materiais é enervante e nos desloca, muitas vezes, do essencial. Vivemos
focados na miragem de resultado, da vaidade, do status social e do êxito a
qualquer preço. Entretanto, sabemos que esse “bem-estar social” não é sinônimo
de felicidade interior.
Em minha opinião, nos desperdiçamos
toda vez que confundimos o acessório com o essencial. E o essencial é que
possível mudar o mundo se olharmos para ele de outra maneira e não deixarmos
tocar por aquilo que, na verdade, não interessa.
Às vezes penso que o mundo quer que
a gente ande na moda, que a gente troque de carro, que a gente tenha boa
aparência, que a gente troque de apartamento e estoure o cartão de crédito.
Enfim, o mundo nos impõe todo tipo de vaidade, mas não quer atender nossas
necessidades.
LINCOLN
CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas
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