Lembro
com carinho e muita saudade de Seu Hélio Guimarães, uma pessoa muito querida de
nossa família, cantando de forma arrebatadora: “De noite/Rondo a cidade/A te
procurar/Sem encontrar/No meio de olhos espio/Em todos os bares/Você não
está...”. Tem gente que diz que é o hino de São Paulo. É a história de uma
prostituta que vai matar o amante. Uma música que impregnou corações e mentes.
Foi a partir daí, ouvindo pela
primeira vez essa canção chamada “Ronda”, que passei a conhecer um pouco da
obra de Paulo Vanzolini – poeta, compositor e zoólogo. Embora seja autor de
mais de 70 músicas, ele não se considerava um profissional da área. Doutor em
biologia pela Universidade de Harvard, a zoologia foi a sua grande paixão, mas nunca
deixou de apreciar a boa música junto com a boemia.
A hipocrisia e o pedantismo é que
mais me incomoda, pois o referido compositor não os tinha, e procurava
demonstrar que não tinha esses “atributos” tão instigantes no meio artístico. A
música “Ronda” que se tornou um clássico do samba paulista, serviu de
inspiração para outra obra que retrata a capital paulista, “Sampa”, de Caetano
Veloso. Porém, com seus lábios entreabertos esboçando àquele sorriso, dizia:
“Uma música é considerada plágio quando tem oito compassos de outra. ‘Sampa’
tem quatorze compassos de ‘Ronda’. É uma citação”.
Foi em “mil novecentos e Araci de
Almeida”, brincava aos sorrisos Seu Hélio, ao referir e cantar o samba “Volta
Por Cima”, outro notável sucesso de Paulo Vanzolini: “Reconhece a queda/E não
desanime/Levanta, sacode a poeira/Dá volta por cima...”. É uma daquelas canções
que a gente ouve e jamais esquece.
Para nós, pensadores contemporâneos,
trocando em miúdos, tais versos traduzem: se alguém lhe fecha a porta, não
gaste energia em vão, procure as janelas. Lembre-se da sabedoria da água: a
água nunca discute com seus obstáculos, mas os contorna. Ou melhor, ainda: se
um projeto não dê certo, respire fundo e parta para um novo projeto. Não se dê
tempo para se sentir derrotado, “nem a pau!”.
Olha, neste papo-cabeça, como diz a
garotada por aí, vejo que o compositor Paulo Vanzolini faz parte da linhagem
artística com Tom Jobim, pondo em prática os ensinamentos que recebera de
Heitor Villa-Lobos sobre o “ouvido de dentro” não tem nada a ver com o “ouvido
de fora”.
Às vezes, paro e pergunto: por que
não a parece outros poetas da música como Paulo Vanzoline? Será que a fonte
secou? Ou até quando vamos ter que aturar a pobreza melódica cheia de gracinhas
e vazia de conteúdo?
LINCOLN
CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas
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