domingo, 14 de abril de 2013

Médicos inaptos



       Parece mentira, mas não é! Descobriram que 54,5% dos médicos recém-formados do Brasil são inaptos para a profissão. Esse número é o retrato acabado da inação das autoridades governamentais, com a complacência escancarada do Congresso Nacional, pondo em prática o credo do “é dando que se recebe” – cínica apropriação politiqueira da oração franciscana.
            É uma lástima. É um espelho dos descaminhos de nossa política educacional dos cursos superiores, cujo noticiário já está tão recheado de escândalos e desdobramentos diários que desafia o chavão “só no Brasil”.
            Nada, absolutamente nada, justifica o cedente apelo da sociedade (por novas escolas médicas) e à pressão de empresários oportunistas para que o governo federal autorizasse, entre 2000 e 2012, a abertura de 98 novas faculdades, perfazendo um total de 198 escolas no País. Nos Estados Unidos, habitado por 314,3 milhões de pessoas, existem 137 instituições similares.
            Uma hora a casa cai. Ou melhor: a casa já caiu! Contrariando as leis vigentes, a maioria desses centros não dispõe de instalações hospitalares adaptadas para o ensino e carecem de corpo docente qualificado. Isso indica que o processo foi norteado por interesses políticos menores e pelo anseio do lucro desmedido e predador.
            Depois de pensar, pensar, pensar, o meu amigo Cordeiro, afastando o cabelo da testa e revelando uma calvície já bem avançada, disse-me, de forma debochada: “Sobre o assunto, meu caro, o governo da presidente não se pronunciou. Acho que ficou fanho, quem sabe ainda está em seus gabinetes fazendo gargarejo com sal e água morna”.
            Vergonha. Esta é a palavra certa para definir o sentimento da classe médica e boa parte da população. Numa nação de dimensões continentais e insuportável desigualdade, seria racional que as novas escolas médicas fossem acomodadas, de forma qualificada, em regiões remotas do Brasil. Contudo, 70% delas foram instaladas na região sudeste, rica e congestionada, e 74% são de natureza privada, cobrando taxas exorbitantes de alunos.
            E façam o favor: não venham com essa conversa de abrir mais 4.500 vagas para alunos de medicina (algo como 55 novas escolas) – conforme a nossa presidente anunciou. Num momento em que as universidades federais se encontram em estado de penúria, essa meta torna-se uma quimera fora da realidade da nação. Isso “é palhaçada”, em português castiço.
            Sem meias palavras, julgo que profissionais inaptos devem ser impedidos de exercer a profissão e que seja promulgada uma legislação impondo um exame de capacitação para os novos médicos, a exemplo da OAB.


                                                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                Advogado e mestre em Administração
                                                             
               

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