Parece
mentira, mas não é! Descobriram que 54,5% dos médicos recém-formados do Brasil
são inaptos para a profissão. Esse número é o retrato acabado da inação das
autoridades governamentais, com a complacência escancarada do Congresso
Nacional, pondo em prática o credo do “é dando que se recebe” – cínica
apropriação politiqueira da oração franciscana.
É uma lástima. É um espelho dos
descaminhos de nossa política educacional dos cursos superiores, cujo
noticiário já está tão recheado de escândalos e desdobramentos diários que
desafia o chavão “só no Brasil”.
Nada, absolutamente nada, justifica o
cedente apelo da sociedade (por novas escolas médicas) e à pressão de
empresários oportunistas para que o governo federal autorizasse, entre 2000 e
2012, a abertura de 98 novas faculdades, perfazendo um total de 198 escolas no
País. Nos Estados Unidos, habitado por 314,3 milhões de pessoas, existem 137
instituições similares.
Uma hora a casa cai. Ou melhor: a
casa já caiu! Contrariando as leis vigentes, a maioria desses centros não
dispõe de instalações hospitalares adaptadas para o ensino e carecem de corpo
docente qualificado. Isso indica que o processo foi norteado por interesses políticos
menores e pelo anseio do lucro desmedido e predador.
Depois de pensar, pensar, pensar, o
meu amigo Cordeiro, afastando o cabelo da testa e revelando uma calvície já bem
avançada, disse-me, de forma debochada: “Sobre o assunto, meu caro, o governo da
presidente não se pronunciou. Acho que ficou fanho, quem sabe ainda está em
seus gabinetes fazendo gargarejo com sal e água morna”.
Vergonha. Esta é a palavra certa
para definir o sentimento da classe médica e boa parte da população. Numa nação
de dimensões continentais e insuportável desigualdade, seria racional que as
novas escolas médicas fossem acomodadas, de forma qualificada, em regiões
remotas do Brasil. Contudo, 70% delas foram instaladas na região sudeste, rica
e congestionada, e 74% são de natureza privada, cobrando taxas exorbitantes de
alunos.
E façam o favor: não venham com essa
conversa de abrir mais 4.500 vagas para alunos de medicina (algo como 55 novas
escolas) – conforme a nossa presidente anunciou. Num momento em que as
universidades federais se encontram em estado de penúria, essa meta torna-se uma
quimera fora da realidade da nação. Isso “é palhaçada”, em português castiço.
Sem meias palavras, julgo que
profissionais inaptos devem ser impedidos de exercer a profissão e que seja
promulgada uma legislação impondo um exame de capacitação para os novos
médicos, a exemplo da OAB.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre
em Administração
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