domingo, 24 de março de 2013

A nova lei seca



       Acreditem: num daqueles dias especiais de inspiração em que até o mais comum dos mortais vira filósofo, resolvi tornar-me completamente abstêmio, pelo menos naquela plena segunda-feira do último carnaval.
            Hoje eu sei a importância dessa decisão, não só para a minha saúde, como também foi a maneira de ter evitado a minha prisão em flagrante por ingerir alguma bebida alcoólica, no momento em que fui parado por uma blitz policial na entrada da cidade de Lucena. Impondo-me tudo que a nova lei seca ordena: teste de bafômetro, filmagem, prova testemunhal e outros meios de prova admitidos em direito.
            Infelizmente, pelo andar da carruagem, as medidas dessa norma jurídica não vão reduzir drasticamente o trágico número de mortes nesse setor. A realidade está bem longe de ser assim. Por que tenho esse entendimento? Ora bolas, porque falta um programa sério de prevenção de acidentes e mortes no trânsito, envolvendo uma ampla gama de aspectos: educação, engenharia (das estradas, das ruas e dos carros), fiscalização, primeiros socorros e punição.
            Podem dizer o que for do meu velho amigo Cordeiro, que tá gagá, lesado além da conta etc. mas, uma coisa ele está certo, quando diz: “ A nova lei seca é um conjunto de omissões e competências primárias”.
            É nesse território que prospera a demagogia. O legislador, diante da sua impotência para resolver de fato os problemas nacionais, usa seu poder legislativo e com isso se tranquiliza dizendo que fez sua parte. Trata-se de mais um triste percalço do combalido legislativo que cria novas leis penais, iludindo a população e adiando o enfrentamento correto do problema.
            Fica a impressão de que foi um projeto de lei apressado, preparado sem dar ouvido à ninguém. No DNA dos ingleses, por exemplo, existe a cultura da prevenção. Transmitido de geração a geração. Como é o caso também lá na Austrália, onde tenho uma filha estudando e trabalhando que sempre enaltece o elevado controle e organização na área de trânsito.
            É interessante notar que, em 2010, registramos 42.844 mortes no trânsito, contra 32.787 da União Europeia. Mais de 10 mil mortes que no Brasil, mesmo tendo uma frota de veículos quatro vezes maior que a nossa. Mas, para chegar esse resultado, teve que cumprir rigorosamente uma lista com mais de 60 itens.
            Não é nosso papel coadjuvar o otimismo pueril, mas deixar claro que não toleramos aventuras policialescas e a lógica apenas do código de punição. Sem severas fiscalizações e persistente conscientização de todos, motoristas e pedestres, nada se pode esperar de positivo da nova lei.

                                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                      lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                        Advogado e Mestre em Administração
    
               

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