quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A falta de Luiz Gonzaga

É. Mais uma vez o Nordeste brasileiro sofre os efeitos terríveis de uma seca. Desde garoto que vejo essa dramaticidade. A bem da verdade é que as medidas tomadas pelos governos têm sido inócuas e despropositadas – providências cosméticas.  A partir do Imperador Dom Pedro II, tais medidas de afogadilhos não têm dado conta de resolver esse grave problema.
            Não custa lembrar que a população (estimada) cravada na referida região é de 28 milhões de pessoas, sendo que 39% delas estão diretamente afetadas, em que ainda moram na área rural. Um quadro de tristeza que já se banalizou. Virou uma epidemia. E aí, meu caro leitor, vale o clichê: contra fatos não há argumentos.
            Por coincidência, ou, mais provavelmente, não por coincidência, no centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, sim, como nos faz falta a voz combatente e de protesto – através de suas canções – em defesa do povo nordestino. Ele materializava sua gente, sua cultura. Numa belíssima crônica, José Lins do Rego escreveu: “Gonzaga trouxe uma novidade à música brasileira. Trouxe o sentimento melódico das extensões sertanejas, das léguas tiranas, das asas brancas, do gemer dos aboios. As tristezas dos violeiros passaram para sua sanfona”.
            Apesar da clareza do diagnóstico, vemos a nossa região que tanto amamos de joelhos e indefesa diante de tantas mazelas perpetuadas por aqueles que deveriam nos livrar delas. Todo mundo espera, nada engrena, pois são personagens de velhos carnavais. Os desvalidos, ou os pobres-diabos, começam a ser visto como um pantanal de problemas, sem solução.
            A música de Gonzagão continua vigorosa, notadamente para os sem eira nem beira. Quando falava das dificuldades de sua região, ele respondia na lata, sem rodeios: “O Nordeste tem jeito, seu menino!”.
            Há exato 48 anos, em Cajazeiras, sei disso não por ter excelente memória (já foi boa, hoje, assim como a barba e joelhos, não é mais como outrora), mas pela certeza de que era o ano a que vim morar em João Pessoa. Pois bem. Foi lá, em praça pública, que assisti ao show do famoso Luiz Gonzaga, onde já retratava com maestria a saga do desespero e revolta dos nordestinos em relação à seca, e como sempre, lamentava e cantava: “Eu perguntei a Deus do céu, ai! Pra que tamanha judiação?”.
            Portanto, tudo que lhe diz respeito nos diz respeito. O recado de suas canções permanece vivo e é simples: esquivarem-se do mérito da questão, embute um reconhecimento tácito de derrota. E como o nordestino é antes de tudo um forte, é claro, não vai aceitar!
           

                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                    lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                    Advogado e Administrador de Empresas
           
           



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