segunda-feira, 9 de abril de 2012

O poeta Nelson Cavaquinho

       Muitas vezes quando estamos numa roda de conversa, notadamente se as pessoas tiverem fazendo comentários sobre música, aí pinta um “aquele tempo” as canções tinham mais sentido poético, intenso, sensível, verdadeiro. Tipo de música que se ouvia devagar, com pena de acabar, que fazia bem aos ouvidos e... aos olhos.
            Foi, portanto, em um desses momentos descontraídos e especiais, como esse, que veio à tona o nome do mestre Nelson Cavaquinho – considerado por muitos, o maior poeta popular do Brasil. Produziu uma belíssima e intrigante obra musical. A morte, a melancolia e outros sentimentos profundos figuraram em mais de 600 de seus sambas. Impulsionados, no limbo, pela mistura de pessimismo e amor à vida.
            Há uma história dele que gosto de contar. Certa noite, Nelson Cavaquinho acordou assustado e suando frio. Havia sonhado que morreria exatamente às três horas daquela madrugada. Olhou para o relógio e os ponteiros marcavam 2:55 hs. Não dormiria mais. Passou a noite toda atrasando os ponteiros para que não chegasse o horário fatídico.
            Fiquei maravilhado quando escutei pela primeira vez o seu samba antológico “A Flor e o Espinho”: “Tire o seu sorriso do caminho/ Que eu quero passar com a minha dor”. Poeta de verve singular, que soube inspirar como poucos nos sabores populares, nos recursos simples, nas práticas tradicionais. Jamais foi tomado pela soberba de achar que era um craque em fazer a boa música. Pouco se lixava para o dinheiro. “Não tem porque me apresentar. Dinheiro não rima com nada”, assim vociferou ao recusar o convite para participar de um programa de tevê.
            Hoje, lastimavelmente, os ingredientes do sucesso são outros. Basta citar a letra desse “fenômeno” de crítica e público que assola as rádios e TV’s, não só no Brasil, mas também no mundo: “Ai, se eu te pego”, do artista chamado Michel Teló.Versos que expressam metaforicamente seu deleito sexual, chegando mesmo, pode-se dizer, a um estado de clímax sexual, um orgasmo. Haja tesão melódica! Pois é. São milhões de discos vendidos como se fossem água e picolé negociados pelos ambulantes em dia de domingo assoalhado (na praia). Ou melhor, como costumo dizer: é um baita mamão com açúcar.
            Acho não, tenho certeza, que o nosso querido Nelson Cavaquinho deve estar rindo lá de cima dessa presepada musical, quando, depois de seu banho frio e de um cálice de conhaque.


                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                     lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                     Advogado e Administrador de Empresas



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