terça-feira, 1 de novembro de 2022

Confraria dos boêmios

   Tem neguinho que diz que é o “tampa’ na arte de beber, porque ainda não conhece o Fernandão, eterno presidente da confraria dos boêmios vespertinos, chamada APA - Associação da Passarela do Álcool. Bom.  A sugestão de criar essa entidade deve-se a outro confrade de copo chamado Ricardão, cujo objetivo é estimular e promover a comunhão entre os seus membros que curtem e aprecia a boa bebida, uma boa música, um bom papo. 

            Páreo duro, o Fernandão. Pessoa bem afeiçoada, com característica que lembra o grande ator e diretor do cinema brasileiro Anselmo Duarte. Gosta de se envolver em pesadas carraspanas, apesar das recomendações médicas de que ele deveria passar o resto da vida afastado do álcool. Não faz por menos, uma vez que agora só possui um rim. 

            Seu parceiro e secretário da associação, Pedro 51, também jardineiro que nos dá assistência ao nosso condomínio, rola entre si uma eletricidade e um magnetismo etílico comovente. Tem uma particularidade: embarca o copo de uma vez, tragando o líquido em dois goles. Sob estrepitosa gargalhada, confessa: “Não sei o que será de nós sem um traguinho. Pra falar a verdade, dês que me entendo de gente que eu bebo”.  

            Na véspera de Natal, estávamos todos reunidos, quando dei fé, vinha chegando o nosso presidente arrastando os pés, no seu esforço plástico, elástico, acrobático... para nos dizer que estava apto a permanecer no cargo, pelo fato de que jamais se afastou de suas obrigações “estatutárias” da organização. Para justificar a sua aptidão, engoliu de uma só vez a dolorosa do Conhaque Domecq. 

            Com sutileza de elefantes, o filiado dotô Fofinho olhou em torno, visível ar de contrariedade estampada na face, e por ser médico, deu o conselho: “Meu caro, reconheço que a cachaça tem mais força do que Deus, porque Deus dá juízo e ela tira, porém você não está em boas condições de saúde, razão pela qual te peço, com as vênias de estilo, para que passe o bastão da presidência ao comandante Ruarez”. Com todas as suas pusilanimidades, medindo cada palavra, retruca: “Peraí. Pelo amor do Lá de Cima, não me peça isso!”. 

            Outro dia, num encontro com o companheiro Imperador, ícone glamourizado do fino Scott, foi um afrouxamento risadal (perdão pelo estranho neologismo) quando me perguntou como ia o nosso estonteante presidente. De pronto, respondi: “Zerando a sede com uma braminha”. 

            Permitam-me uma digressão: segundo o filósofo Ruarez “Beber é arte, comer é vício”. Exímio gozador. Um verdadeiro craque em matéria de fazer rir; foi através dessa linguagem leve e descontraída que ele vociferou: “Vinte e quatro horas num dia, 24 cervejas numa caixa. Coincidência?”. 

            O Patrulheiro é a novidade - o tempero, o equilíbrio, a prudência - que faltava ao grupo, quando anuncia: “Beba com moderação. Melhor beber todo dia, do que beber o dia todo”. 

 

PS: texto escrito em 30/5/2010 - Jornal Correio da Paraíba, homenageando os meus amigos de nossa saudosa confraria dos boêmios. 

 

 

                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA 

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