O
desleixo na preservação do nosso patrimônio histórico e cultural tem sido uma
coisa imperdoável. Ora, é evidente que as cidades devem se modernizar, mas
nunca demolir, desfazer, desproteger as nossas identidades patrimoniais,
visando apenas o vil metal.
Isso é um carma, um absurdo. Eu me
sinto péssimo diante disso. O assunto é delicado, mas não vejo como possamos
furtar-nos a ele.
É muito importante preservar o patrimônio
brasileiro, pelo fato de representar a materialização da nossa história e
identidade cultural.
Valorizar a memória é entender o
passado para mudar o futuro. Lamentavelmente, porém, o ministro da Economia,
Paulo Guedes, não pensa assim. Não entende isso, ou finge não entender. Uma vez
que levará a venda o prédio definido pelo próprio Iphan (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como símbolo da arquitetura moderna
brasileira: o Palácio Gustavo Capanema.
A intenção de vender esse valoroso
imóvel é uma ação deliberada contra cultura brasileira. O edifício é um
expoente do processo civilizatório nacional. E sua venda seria comparável ao
leilão dos palácios do Planalto e da Alvorada, sede do governo federal e
residencial oficial do presidente da república.
Como se não bastasse, damo-nos ao “luxo”
de assistir tudo isso calado.
E
acontecendo em pleno século XXI e tudo é observado com olímpica indiferença.
Segundo o Iphan, o icônico Capanema
é descrito como fruto do encontro de nomes como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer,
Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Ernany de Vasconcelos e Jorge Machado Moreira,
sob a consultoria de Le Corbusier. A sua construção é uma síntese do talento
brasileiro e condensa um projeto de futuro, saído das mentes brilhantes dos
seus arquitetos.
Pelo site oficial do governo está
assim anunciado: “Pela primeira vez no Brasil, um edifício reuniu as principais
características da arquitetura moderna, com o uso de pilotis, planta livre,
terraço-jardim, fachada livre e janelas em fita. Somados a eles, também
estiveram Burle Marx, Cândido Portinari, Bruno Giorgi, Adriana Janacópulus,
Celso Antônio e Jacques Lipchitz, consolidando o time responsável pelas artes
integradas, com pinturas, esculturas e paisagismo”.
Infelizmente, o plano de Paulo Guedes,
estúpido e obscurantista, é fazer do Brasil um país que não mais se reconheça,
sem memória nem medida da nossa singularidade criativa.
Num país de memória curta, temos o
dever de reavivar o nosso patrimônio cultural, não deixando que as nossas
raízes históricas desapareçam.
Cumpre, ademais, sublinhar: sou a
favor da venda de imóveis subutilizados em benefício à sociedade, desde que
seja com critério e sapiência.
Que o Capanema seja o símbolo da
nossa resistência e da nossa sobrevivência. A lei e o bom senso não apontam
outro caminho.
Patrimônio nacional, não tem preço!
Não se vende!
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado, administrador e escritor
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