quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Futuro do Palácio Gustavo Capanema

 

            O desleixo na preservação do nosso patrimônio histórico e cultural tem sido uma coisa imperdoável. Ora, é evidente que as cidades devem se modernizar, mas nunca demolir, desfazer, desproteger as nossas identidades patrimoniais, visando apenas o vil metal.

            Isso é um carma, um absurdo. Eu me sinto péssimo diante disso. O assunto é delicado, mas não vejo como possamos furtar-nos a ele.

            É muito importante preservar o patrimônio brasileiro, pelo fato de representar a materialização da nossa história e identidade cultural.

            Valorizar a memória é entender o passado para mudar o futuro. Lamentavelmente, porém, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não pensa assim. Não entende isso, ou finge não entender. Uma vez que levará a venda o prédio definido pelo próprio Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como símbolo da arquitetura moderna brasileira: o Palácio Gustavo Capanema.

            A intenção de vender esse valoroso imóvel é uma ação deliberada contra cultura brasileira. O edifício é um expoente do processo civilizatório nacional. E sua venda seria comparável ao leilão dos palácios do Planalto e da Alvorada, sede do governo federal e residencial oficial do presidente da república.

Como se não bastasse, damo-nos ao “luxo” de assistir tudo isso calado.

E acontecendo em pleno século XXI e tudo é observado com olímpica indiferença.

            Segundo o Iphan, o icônico Capanema é descrito como fruto do encontro de nomes como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Ernany de Vasconcelos e Jorge Machado Moreira, sob a consultoria de Le Corbusier. A sua construção é uma síntese do talento brasileiro e condensa um projeto de futuro, saído das mentes brilhantes dos seus arquitetos.

            Pelo site oficial do governo está assim anunciado: “Pela primeira vez no Brasil, um edifício reuniu as principais características da arquitetura moderna, com o uso de pilotis, planta livre, terraço-jardim, fachada livre e janelas em fita. Somados a eles, também estiveram Burle Marx, Cândido Portinari, Bruno Giorgi, Adriana Janacópulus, Celso Antônio e Jacques Lipchitz, consolidando o time responsável pelas artes integradas, com pinturas, esculturas e paisagismo”.

            Infelizmente, o plano de Paulo Guedes, estúpido e obscurantista, é fazer do Brasil um país que não mais se reconheça, sem memória nem medida da nossa singularidade criativa.

            Num país de memória curta, temos o dever de reavivar o nosso patrimônio cultural, não deixando que as nossas raízes históricas desapareçam.

            Cumpre, ademais, sublinhar: sou a favor da venda de imóveis subutilizados em benefício à sociedade, desde que seja com critério e sapiência.

            Que o Capanema seja o símbolo da nossa resistência e da nossa sobrevivência. A lei e o bom senso não apontam outro caminho.

            Patrimônio nacional, não tem preço! Não se vende!

 

 

                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                        Advogado, administrador e escritor

Nenhum comentário:

Postar um comentário