Sempre detive, como conceito, de que a Família é o
lugar onde o amor deveria ser praticado, vivenciado, desfrutado em toda sua
essência.
Inspirado
nesse diapasão, confesso que jamais apagarei de minha mente a figura
extraordinária do Dr.Aldemaro Campos (meu sogro). Era um homem inteligente,
íntegro, grande conhecedor de nossa literatura, e um grande
visionário. De hábito simples (até demais). Vivia uma vidinha pacata, típica ao
homem do campo.
Depois
de um longo expediente, não de sua Repartição Pública (Procuradoria do Estado),
mas de suas atividades na fazenda, chegava em casa exausto, sujo, amarrotado,
malcheiroso, moído e monossilábico, mesmo assim, não deixava de dirigir um
gesto de atenção e de cordialidade as pessoas.
Sempre
se queixava da vida moderna: estresse, trânsito, correria, insegurança,
colesterol, triglicérides etc. Não era adepto a nostalgia esquizofrênica
de seu tempo de mocidade. Dizia que o ser urbano enfrentava uma crise de
referências.
Entre
tantos bate-papos que tivemos juntos, não me esqueço quando ele disse que todas
as criaturas nascem flexíveis para morrerem rígidas. Donde a flexibilidade era
discípulo da vida e a rigidez, da morte. Exemplificava-se com maestria essa
teoria através da velha história do carvalho e do junco (plantas) que enfrentam
a tempestade: o primeiro, por ser firme, quebra-se e morre. O segundo,
maleável, sobrevive.
Meu
coração tem por essas lembranças, reais sentimentos de alegria, saudade e
felicidade. Mormente, as histórias ingênuas contadas por Dona Salete
(como dizem por ai, a sua “cara-metade”, a “tampa da panela”) sobre a
estonteante Maria Amaral - sua parenta.
Não
sei até hoje se tais narrativas eram reais ou de ficção. Ressaltando, qualquer
semelhança com seus personagens vivos ou mortos teria sido mera coincidência.
E
mais: nessas histórias contadas por Dona Salete, sobre essa criatura
indefectível, pareciam peças de Shakespeare por tratarem de temas universais,
tipo traição, paixão, inveja, ódio, caridade etc.
Quando
estava em regime de inspiração total, Dona Salete (espécie de detergente
d'alma) brilhava com umas histórias (sem fim) didática e empolgante sobre as
travessuras trepidantes dessa tal Maria Amaral. Com vestígio de humor, ou de
ironia, vinha lá Dr.Aldemaro com sua tirada:
“Eeeiita!!! Boa... Boa... Muito
boa!!! Já terminou???
Por
isso, todas às vezes que vejo um político tentando se defender (com histórias
mirabolantes) nos embaraçosos escândalos de corrupção, sinto a falta da
presença do Dr.Aldemaro, com sua maldita lealdade inabalável, para lhe sapecar:
Chega... Chega de Maria Amaral!
LINCOLN CARTAXO DE
LIRA
Advogado,
administrador e escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário