segunda-feira, 11 de outubro de 2021

A Constituição Cidadã

 

            Muito se falou - e ainda se fala – que a Constituição de 1988, chamada pelo grande Ulisses Guimarães de Constituição Cidadã, é realista, rica em contradições e ambiguidades, economicamente desequilibrada e anacrônica, excessiva em matérias e detalhamentos, mas repleta de lacunas. Que, por conseqüência, provocou o maior desastre fiscal da história brasileira, levando inevitavelmente a disparada do déficit público, da dívida interna e da carga tributária.

            À luz disso, aspas para o ex-presidente Sarney: “Logo, logo se viu a Constituição Cidadã criava mais direitos que obrigação, mais despesas que fontes de recursos. Um dos efeitos danosos foi à necessidade de emendá-la continuadamente. A cada emenda, o governo se torna refém da parte menos nobre do Congresso”.

            Não precisa ser um craque com estudos na Sorbonne - se arvorando como intelectual - para não reconhecer muitas virtudes de nossa Constituição. A mais abrangente de todas, trouxe avanços notáveis em campos como dos direitos e das garantias individuais, liberdades públicas, meio ambientes, fortalecimento do Ministério Público, regras de administração pública, planejamento e orçamento, nas cláusulas pétreas.

            É consabido, entre os reconhecidos avanços, as eleições diretas (através da força do voto) em todos os níveis e com voto universal, inclusive de analfabetos e menores de 16 anos.

            Não resta dúvida que aperfeiçoamentos robustos são necessários e urgentes, como a reforma tributária.

            De outro lado do front, não tenho dúvida: o governo dos presidentes que sucedeu a essa Carta Magna fala de liberdade e democracia, em instituições fortes e livres, mas age em sentido contrário, na mão inversa. Daí o retrocesso e não o progresso do que foi conquistado.

            E veja: num país onde a esperteza passou a ser chamada de competência – segundo o empresário Antonio Ermírio de Moraes -, há ainda um longo caminho a ser percorrido para eliminar injustiças gritantes, como a existência de crianças e jovens vítimas de pobreza, vivendo à margem da sociedade. Há, também, a necessidade de eliminar vícios tradicionais que são causas de desigualdade regional e social.

            Não se trata da desejável fórmula dos freios e contrapesos pensados por Montesquieu há 270 anos. O Congresso não confia no Poder Executivo, que não confia no Poder Judiciário, que não confia em ninguém.

            Aliás, diga-se de passagem, é hora de ser menos visionário e mais futurista.

            É preciso aproveitar a experiência desses 33 anos para livrar a Carta dos erros e prescrever os acertos, resgatando o País para a modernidade.

 

                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                         Advogado, administrador e escritor

   

 

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