terça-feira, 3 de agosto de 2021

Revolta em Cuba

 

             Para mergulhar na história, estive em Cuba há 11 anos. Constatei que as pessoas tinham medo de falar, desconfiadas. Desconheciam a realidade mundial, informações somente pelas TVs estatais, controladas.

            Um absurdo sem tamanho. Uma pobreza generalizada.  Não tinham passaporte, presos no seu próprio país, não podiam sair. Avanço na saúde é uma lenda. Embora exista uma rede básica de saúde adequada, herança soviética. No mais, tudo sucateado, aparelhos velhos amarrados com arame.

            Tudo lá funciona na base do improviso – a famosa gambiarra. No ranking de Liberdade Econômica, de 178 países, Cuba está em 176, à frente apenas da Coreia do Norte e Venezuela.

       Com a onda de protestos que inundou recentemente às ruas de Cuba, desde as cidades do interior até Havana, os manifestantes foram espancados, muitos foram detidos, outros estão desaparecidos, repórteres foram sequestrados, uma youtuber foi presa ao vivo enquanto dava entrevista.

Não é só constrangedor, é vergonhoso e humilhante. Após anos de silêncio, os cubanos saíram às ruas para protestar contra o regime comunista. Poucas vezes ocorreram reações desse porte desde que a ditadura foi implantada, em 1959.

            Infelizmente, a esquerda brasileira, de modo geral, não seguiu o exemplo do premiado escritor José Saramago, quando rompeu com o desastroso regime cubano, dizendo: “Até aqui cheguei”.

            Há, sem dúvidas, boas razões para tal. Não fosse o tirânico punho de aço da ditadura cubana, praticamente toda a população daquela degradação já teria fugido para algum país onde pudesse ser livre.

            Como se sabe, não há democracia em Cuba. Quem conhece o país sabe e vê o empobrecimento e a insatisfação da população, que sofre com o autoritarismo governamental. Sou testemunha ocular dessa triste realidade.

            Como diz lá na minha terra natal, Cajazeiras, esse regime não vale nem meio pequi roído. Alguém precisa sacudir o cinismo desse regime. As ditaduras acham possível calar as pessoas desligando-as do mundo – mas não, as coisas mudaram.

            Escarafunchando os registros da minha viagem à Cuba, apurei que o seu  Partido Comunista tem 700 mil filiados, numa população de 11 milhões. Os “revolucionários” não são atraídos por elevados ideais socialistas, mas por benesses materiais que se estendem de empregos no setor público à garantia de vagas nas universidades.

            Pelo que constatei, mais cedo ou mais tarde, atual revolta popular cubana iria ocorrer. Não há futuro para um regime que caducou e vai cair podre.

            O povo de Cuba clama a Deus.

 

  

                                     LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                Advogado, administrador e escritor

       

               

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