quarta-feira, 17 de março de 2021

O ofício da escrita

 

            Um dos poucos consolos da quarentena pela Covid-19 é que ela nos devolve o tempo que não tínhamos para ouvir música, ler e escrever.

            Independente da crise pandêmica - antes, muito antes -, eu já escrevia diariamente, que se tornou para mim um hábito prazeroso, de encantamento e brilho.

            Conheci altos e baixos na vida, razão porque fiquei um pouco mais sábio. E a literatura, nesse contexto, teve um papel importante na produção dos meus artigos e crônicas, como também, na produção de quatro livros e outro a ser lançado até o próximo mês de junho. E já tem título: “Batendo o ponto”, que está saindo de maneira muito forte e rápida.

            Todos os que conhecem os aspectos básicos do ofício da escrita, como elegantemente o chamamos, sabe que para quem escreve é necessário escrever bem sobre coisas fracas ou idiotas, mas não pode escrever de maneira fraca sobre coisas fracas nem de maneira idiota sobre coisas idiotas.

            Na minha cabeça, cada livro é escrito a partir do esforço de uma vida única, é a revelação de uma alma única, mas quando é publicado torna-se também o representante de uma tendência, uma direção e, poucos anos depois, uma ideologia, uma estética, uma moral, um período, uma época.

            Olhando bem, escrever é uma busca rumo ao interior, rumo a um lugar onde o social não existe, mas de onde pode ser visto, rumo a um lugar interior onde os limites são transpostos, para então serem vistos e novamente restabelecidos.

            Ou, dito de outra forma: escrever é precisamente criar diferenças, e justamente onde existe igualdade: apenas por meio da escrita o igual pode tornar-se diferente, porque adquire uma forma graças à qual se transforma em determinada coisa em oposição a todas as outras.

            No fundo, escrever e ler estão relacionados à liberdade, à busca pela liberdade, e essa busca pela liberdade é o aspecto fundamental – e não aquilo do que tentamos nos libertar, que pode ser uma identidade, uma ideologia igualitária ou um conceito de autenticidade.

            Não consigo escrever tolhido da minha liberdade de dizer o que penso desta vida. Pois os que escrevem com clareza têm leitores, os escrevem de maneira obscura, que ficam em cima do muro, têm comentaristas.

            Neste mundo maluco, cheio de desordem, de maldade, de descrença e de pandemia, eu me encaixo literalmente no que disse certa feita o grande escritor Carlos Heitor Cony: “Escrever foi a tábua à qual me agarrei para não ser considerado um idiota”.

 

                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                Advogado, administrador e escritor

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