Tenho
conversado com muitos amigos (pensadores), pessoas capazes de iluminar o
pós-pandemia, para tirar do papel as boas ideias com objetivo de resolver a
nossa situação sanitária e econômica.
O panorama é de embasbacar. É fato:
caso o País estivesse vacinando seus cidadãos, com um calendário programado e
compra de imunizantes suficientes, a recuperação em V, da qual tanto fala o
ministro Paulo Guedes, já estaria em um estágio mais avançado. No entanto,
algumas autoridades insistem em fechar os olhos aos avanços da ciência,
preferindo dar as mãos a um conservadorismo retrógrado.
Sem minimizar o impacto da
devastadora pandemia, parece-me claro que carecemos de um rumo. Quando o mundo
entendeu que estávamos próximos da obtenção das primeiras vacinas e os países
iniciaram a corrida para comprá-las, o Brasil não estava entre eles.
Pelo contrário, o presidente se
empenhou em afirmar que não seria vacinado, que ninguém era obrigado a fazê-lo
contra a vontade e que os efeitos colaterais poderiam ser “terríveis”.
Contrapondo a visão dos economistas, inclusive do seu ministro. Por essa
derrapagem, somos o segundo país com o maior número de mortes.
Apresso-me para dizer que o Brasil
produz só 5% dos insumos farmacêuticos que consome. Poderia, sim, está nadando
de braçada vendendo insumos para o mundo todo, e vacina também. A pandemia
escancarou a verdadeira situação da ciência e da tecnologia em um país que é
mais ou menos como o bambu: por fora, belo e imponente, por dentro, oco e
vazio. Somos mestres em fazer belos discursos, arrumar desculpas e colocar a
culpa nos outros, porém o que falta é competência e vontade política para
transformar o conhecimento em coisas práticas e inovadoras.
É injustificável que os países em
situação parecida à do Brasil começaram vacinar muito antes, como Argentina,
México, Chile, ou em situação até pior, como países da América Central.
Exposição vexatória e degradante. Só não enxerga quem não quer.
Para quem debruçou sobre o assunto
e, ao mesmo tempo, para quem foi contaminado pelo Coronavírus, como eu, é
repugnante constatar a sórdida batalha de desinformação a favor do vírus, na
qual promove, com aplauso e a colaboração de uma claque radical e inconsequente,
o descrédito de medidas básicas para conter a disseminação da doença.
O brasileirinho da silva tem pressa
de se vacinar para que possa retomar a confiança, sem a qual nenhum povo
prospera. Vamos coordenar atores, agilizar os trâmites, negociar incansavelmente
com fornecedores internos e globais, recrutar o que há de melhor na competência
técnica brasileira para cada tarefa. É preciso afastar os ineptos, os amadores,
os preguiçosos, os arautos da desinformação e os sabotadores.
Recuperei o prazer da leitura, desaparecido
ao longo do meu combate pandêmico. E não poderia terminar este texto sem citar
Kamala Harris: “Somos ousados, destemidos e ambiciosos. Não nos amedrontamos em
nossa crença de que venceremos, de que nos levantaremos”. Apesar de tudo, essa
é também minha crença!
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado, administrador e escritor
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