quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Os rumos da pandemia

 

             Tenho conversado com muitos amigos (pensadores), pessoas capazes de iluminar o pós-pandemia, para tirar do papel as boas ideias com objetivo de resolver a nossa situação sanitária e econômica.

            O panorama é de embasbacar. É fato: caso o País estivesse vacinando seus cidadãos, com um calendário programado e compra de imunizantes suficientes, a recuperação em V, da qual tanto fala o ministro Paulo Guedes, já estaria em um estágio mais avançado. No entanto, algumas autoridades insistem em fechar os olhos aos avanços da ciência, preferindo dar as mãos a um conservadorismo retrógrado.

            Sem minimizar o impacto da devastadora pandemia, parece-me claro que carecemos de um rumo. Quando o mundo entendeu que estávamos próximos da obtenção das primeiras vacinas e os países iniciaram a corrida para comprá-las, o Brasil não estava entre eles.

            Pelo contrário, o presidente se empenhou em afirmar que não seria vacinado, que ninguém era obrigado a fazê-lo contra a vontade e que os efeitos colaterais poderiam ser “terríveis”. Contrapondo a visão dos economistas, inclusive do seu ministro. Por essa derrapagem, somos o segundo país com o maior número de mortes.

            Apresso-me para dizer que o Brasil produz só 5% dos insumos farmacêuticos que consome. Poderia, sim, está nadando de braçada vendendo insumos para o mundo todo, e vacina também. A pandemia escancarou a verdadeira situação da ciência e da tecnologia em um país que é mais ou menos como o bambu: por fora, belo e imponente, por dentro, oco e vazio. Somos mestres em fazer belos discursos, arrumar desculpas e colocar a culpa nos outros, porém o que falta é competência e vontade política para transformar o conhecimento em coisas práticas e inovadoras.

            É injustificável que os países em situação parecida à do Brasil começaram vacinar muito antes, como Argentina, México, Chile, ou em situação até pior, como países da América Central. Exposição vexatória e degradante. Só não enxerga quem não quer.

            Para quem debruçou sobre o assunto e, ao mesmo tempo, para quem foi contaminado pelo Coronavírus, como eu, é repugnante constatar a sórdida batalha de desinformação a favor do vírus, na qual promove, com aplauso e a colaboração de uma claque radical e inconsequente, o descrédito de medidas básicas para conter a disseminação da doença.

            O brasileirinho da silva tem pressa de se vacinar para que possa retomar a confiança, sem a qual nenhum povo prospera. Vamos coordenar atores, agilizar os trâmites, negociar incansavelmente com fornecedores internos e globais, recrutar o que há de melhor na competência técnica brasileira para cada tarefa. É preciso afastar os ineptos, os amadores, os preguiçosos, os arautos da desinformação e os sabotadores.

            Recuperei o prazer da leitura, desaparecido ao longo do meu combate pandêmico. E não poderia terminar este texto sem citar Kamala Harris: “Somos ousados, destemidos e ambiciosos. Não nos amedrontamos em nossa crença de que venceremos, de que nos levantaremos”. Apesar de tudo, essa é também minha crença!

 

                            

                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                      Advogado, administrador e escritor

               

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