quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Cartas extraordinárias

 

           Estou relendo com o mesmo entusiasmo quando li pela primeira vez o livro “Cartas extraordinárias”, do inglês Shaun Usher, Companhia das letras, 2014, versão em papel couchê, onde traz pérolas emocionantes do universo das cartas. Do comovente bilhete suicida de Virginia Woolf à receita de “scones” que a rainha Elizabeth II da Inglaterra enviou ao presidente norte-americano Eisenhower. Um parêntese: antes da internet, as pessoas também viviam conectadas.

            A pertinente obra é uma celebração do poder da correspondência escrita, que captura o humor, a seriedade e o brilhantismo que fazem parte da vida de todos nós. Digo até que alguns de seus textos sirvam de referência aos leitores e àqueles que, por desinformação ou desonestidade intelectual, falam e escrevem com parcialidade sobre os fatos que fazem parte da nossa história.

            É interessante se debruçar sobre o registro do então jovem Fidel Castro, aos 14 anos, e não 12, como afirma, pedindo, em inglês, uma nota de dez dólares ao recém-reeleito presidente dos EUA Franklin Roosevelt.

            Em novembro de 1942, durante a batalha de Guadalcanal, que se estendeu por três dias nas ilhas Salomão, o USS Juneau foi atingido por dois torpedos japoneses e afundou. Morreram 687 homens, entre eles os cinco irmãos Sullivan. Depois de dois meses dessa tragédia, sua mãe, Alleta Sullivan, enviou ao Departamento de Pessoal da Marinha uma carta comovente, solicitando informações sobre o acontecido.

            Aos 32 anos, Ludwig van Beethoven, um dos compositores mais famosos de todos os tempos, escreveu uma carta comovente que explica seu comportamento antissocial e sua aflição e só deveria ser aberta pelos irmãos após sua morte. Apesar da surdez, ele continuou compondo até o fim da vida.

            Duas cartas são endereçadas a Marlon Brando: numa delas, de 1957, o escritor Jack Kerouac suplica para que o ator faça parte da adaptação de seu recém-lançado livro “Pé na Estrada”. Noutra, de 1970, Mario Puzo faz pedido semelhante para a versão cinematográfica de “O Poderoso Chefão”. Por sua magnífica interpretação de Vito Corleone, Brando foi agraciado com o Oscar de Melhor Ator.

             E que Gandhi tentou, por meio de uma carta, fazer com que Hitler desistisse de dominar a Europa e não provocasse a Segunda Guerra Mundial. "Pelo bem da humanidade".

            Algumas outras são repugnantes, como a carta em que Jack, o Estripador, se apresenta à polícia londrina enviando um pedaço de uma de suas vítimas. Outros curiosos, como o de uma criança que sugere ao presidente norte-americano Abraham Lincoln que deixe a barba crescer.

            Deve-se destacar o fac-símile do telegrama que avisa aos militares na base de Pearl Harbor que as sirenes que estavam ouvindo não eram um teste – e sim o ataque que motivou a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial.

            Para mim, como diz o autor, um verdadeiro deleite literário a ser degustado aos poucos.

           

           

                                                                 LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                               Advogado, administrador e escritor

                                                          

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário