Essa prática, lamentavelmente, faz parte da cultura brasileira, um fenômeno chamado jeito ou jeitinho. Trata-se de uma índole latente do nosso povo que atua como uma força motriz ou inibidora do seu comportamento.
É
o tipo de pragmatismo tupiniquim: se dá certo é certo, sendo que “dar certo”
equivale a “resolver meu problema”, ainda que censurável e desrespeitoso.
A
vacinação será um processo longo, difícil e sujeito a falhas. Haverá, também,
sacanagens. Como já era esperado, multiplicam-se os relatos de casos de pessoas
que estariam furando a fila da vacina. Não há dúvida de que desrespeitar a
ordem de prioridades constitui grave violação ética e, em algumas situações, se
houver a participação de autoridades, pode caracterizar também irregularidade
administrativa e até delito.
Os
noticiários têm informado que entre os transgressores (fura-filas) estariam
pessoas fora da área de saúde e também profissionais de saúde, incluindo
médicos que não atuam diretamente na linha de frente do atendimento de
pacientes suspeitos ou com Covid-19. É nada menos que uma bofetada no mundo da
vida.
Como
diz José Simão, precursor do humor jornalístico: ”Mudança no plano de vacinação!
Na fase zero, serão vacinadas as famílias dos prefeitos do interior. Se uma
cidadezinha recebe 39 doses, o prefeito já separa cinco pra família! Isso
mesmo. Brasileiro não tem senso de coletividade. E mais essa: Miss Amazonas
posta vídeo sendo vacinada e polemiza nas redes. ‘Miss é prioridade! E ela é
blogueira’”.
Diante
dessa vergonha dos “fura-filas”, temos grandes exemplos, como desse médico:
“Apesar de ser de uma faixa etária de risco relativamente mais elevado para a
Covid-19, resolvi agradecer e dizer não. A dose que, eventualmente, iria para o
meu braço na semana passada pode ser dada a alguém na linha de frente. Essa é a
lógica para qualquer doença quando se estabelece um plano de vacinação”.
É
um egoísmo imenso passarem à frente. E um médico sabe muito bem disso. Logo, se
fura a fila é de caso pensado, um crime contra a saúde pública. Desprovido de
qualquer sensibilidade e razoabilidade.
Sem
meias palavras, nosso problema é o oportunismo de visão curta, para quem tanto
faz deixar a saúde, a ciência e a educação nas mãos de idiotas e incompetentes,
porque acredita que sempre poderá vacinar a família e educar os filhos em outro
lugar.
Municípios
são mais vulneráveis às pressões políticas e econômicas locais. Na falta de
doses suficientes da vacina, os exemplos vistos nesta semana mostram que outros
interesses, que não público e sanitário, podem prevalecer.
É preciso uma vigilância atenta
e punitiva. O Brasil precisa dessa profilaxia, dessa limpeza, para dar
credibilidade ao próprio povo brasileiro e a comunidade internacional.
O
recado não poderia ser mais claro: furar a fila é feio demais e pronto!
Indefensável.
LINCOLN
CARTAXO DE LIRA
Advogado, administrador e escritor
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