quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Ministério Público

 

Não sou ombudsman, mas me permite usar este espaço para algumas reflexões.  

Ora, a Constituição não é uma pessoa, nem uma seita: ela representa um consenso mínimo que nos faz a todos integrantes de um mesmo país. A interpretação de suas regras nos compete a todos; mas a última palavra é da Suprema Corte.

Ao Ministério Público cabe fiscalizar esse regramento constitucional, com vista à solidez da democracia que vem consubstanciar, por sua vez, o respeito às normas em vigor e ao Estado de Direito.

Parece óbvio, mas não custa lembrar: sem valorizar a participação (consequente enfraquecimento) do órgão Ministério Público na justiça brasileira, como diria o vice-presidente Mourão, é atravessar a linha da bola.

A nossa Constituição Federal lhe atribui à função de defensor da ordem jurídica, do regime democrático, dos direitos indisponíveis, dentre outros de notável relevância. Não é por acaso, que o exímio procurador paraibano Eduardo Varandas Araruna, assim se expressou: “O Ministério Público deve ser o último guerreiro a largar sua espada e abandonar seu escudo”.

Eventuais atropelos dos seus membros, apesar disso, não justificam substituir pelo seu reverso. Um Ministério Público atomizado, descontrolado e imprevisível é ruim. Amordaçado e submetido ao poder político, transforma-se num cadáver institucional.

Por outro lado, não pode subir à cabeça o poder institucional inerente aos poderes da Justiça e do Ministério Público. Pueril atitude. No Brasil virou algo taxado como artigo de luxo. Como também, é reprovável o corporativismo de ceder espaço à responsabilidade de quem se desvia da conduta regular.

Não me levem a mal, mas tem que dar um basta àqueles de viés messiânico e voluntarista de abusarem da leitura heterodoxa das leis penais e da licenciosidade na conduta. Isso é ruim, é péssimo! Não é razoável!

Preocupa-nos que a “Lava Jato” venha ter derrotas e anulação de delações no STF. A “Lava Jato” - mudança de paradigma da moralidade -, foi uma das poucas coisas boas que aconteceram no Brasil nos últimos tempos. A sua derrota não é do Ministério Público, é do povo que, no fim, é quem paga a conta deixada pelos corruptos beneficiados. Provocando-nos uma triste sensação de déjà-vu.               

Por isso, engrosso o coro: louve-se o papel do Ministério Público como guardião da lei e dos princípios democráticos.

 

                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                Advogado, Administrador e Escritor

 

 

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