terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Brumadinho – Pompeia


             Como disse no meu artigo anterior, para mim é até difícil falar sobre isso. E agora, continuar falando. A responsabilidade da tragédia de Mariana não aconteceu por acaso e os processos judiciais continuam dormindo nas gavetas. Sim. A certeza de impunidade e a falta de ética instalada nos três poderes produziram Brumadinho.
            Seria empobrecedor ao extremo fugir dessa realidade. Um contingente enorme de brasileiros convive, quiçá sem saber, em cidades com barragens que apresentam risco de rompimento – um total de 45 estruturas vulneráveis, espraiadas por mais de 30 municípios de 13 estados.
            A propósito, a tragédia de Brumadinho se assemelha, em certos aspectos, à erupção vulcânica do Vesúvio que devastou a cidade romana de Pompeia no ano 79 d.C. Puxando pela memória, cheguei conhecer os destroços dessa antiga cidade (em 2012), situada a 22 km da cidade de Nápoles, na Itália, e vi de perto como foi terrível. Deu-me vontade de chorar.
            De fato, segundo um estudo publicado na revista científica Nature, a rapidez com que Pompeia e cidades vizinhas foram engolidas pelos detritos do vulcão Vesúvio fez com que quase todo o cotidiano do local fosse preservado. As cinzas vulcânicas preservaram até impressões dos corpos de pessoas e animais, como se fossem negativos de um filme fotográfico.
            Em Brumadinho, apesar do soterramento quase imediato, é preciso considerar a violência do fluxo da lama, além da acidez dos rejeitos e os componentes tóxicos presentes neles. Tudo isso pode operar no sentido imposto, dificultando a preservação de corpos e objetos engolfados pelo desastre.
            Sem pestanejar, espera-se que a lama e o luto de Mariana e Brumadinho sirvam de lição para que as nossas autoridades estejam atentas às suas responsabilidades. Sirvam, assim, quem sabe, como toque de alvorada.


                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                             lincoln.consultoria@hotmail.com
                                             Advogado e mestre em Administração
               
               
               

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