Como
disse no meu artigo anterior, para mim é até difícil falar sobre isso. E agora,
continuar falando. A responsabilidade da tragédia de Mariana não aconteceu por
acaso e os processos judiciais continuam dormindo nas gavetas. Sim. A certeza
de impunidade e a falta de ética instalada nos três poderes produziram
Brumadinho.
Seria empobrecedor ao extremo fugir
dessa realidade. Um contingente enorme de brasileiros convive, quiçá sem saber,
em cidades com barragens que apresentam risco de rompimento – um total de 45
estruturas vulneráveis, espraiadas por mais de 30 municípios de 13 estados.
A propósito, a tragédia de
Brumadinho se assemelha, em certos aspectos, à erupção vulcânica do Vesúvio que
devastou a cidade romana de Pompeia no ano 79 d.C. Puxando pela memória, cheguei
conhecer os destroços dessa antiga cidade (em 2012), situada a 22 km da cidade
de Nápoles, na Itália, e vi de perto como foi terrível. Deu-me vontade de
chorar.
De fato, segundo um estudo publicado
na revista científica Nature, a rapidez com que Pompeia e cidades vizinhas
foram engolidas pelos detritos do vulcão Vesúvio fez com que quase todo o
cotidiano do local fosse preservado. As cinzas vulcânicas preservaram até
impressões dos corpos de pessoas e animais, como se fossem negativos de um
filme fotográfico.
Em Brumadinho, apesar do
soterramento quase imediato, é preciso considerar a violência do fluxo da lama,
além da acidez dos rejeitos e os componentes tóxicos presentes neles. Tudo isso
pode operar no sentido imposto, dificultando a preservação de corpos e objetos
engolfados pelo desastre.
Sem pestanejar, espera-se que a lama
e o luto de Mariana e Brumadinho sirvam de lição para que as nossas autoridades
estejam atentas às suas responsabilidades. Sirvam, assim, quem sabe, como toque
de alvorada.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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