O articulista J.R.Guzzo se superou
em sua última crônica (“Um país de chatos”- Veja). Diz tudo de maneira leve e
hilária, com seu incompatível estilo. É um ensaio maravilhoso de jornalismo
sério, imparcial e de pesquisa.
Eu me curvo ante a riqueza do
referido texto quando fala que não existe hoje no Brasil obrigação moral e
cívica mais cobrada do cidadão do que se manifestar contra o “preconceito” e a
“intolerância”. Virou uma celeuma, um mal-estar – infelizmente.
É vero. Nelson Rodrigues, o maior
autor de teatro que o Brasil já teve, quiçá um dos melhores da literatura
mundial se não tivesse nascido, vivido e escrito na língua portuguesa. Hoje,
vivo estivesse, seria considerado uma ameaça nacional, um conservador, um
intolerante, um preconceituoso e até um fascista.
A Justiça, por sua vez, seria
implacável contra ele. Seja por machismo, racismo ou homofobia. Decerto não estaria
mais morando no Brasil diante de um ambiente assim. Tudo aqui passou a ser
carimbado como raça de intolerantes. Como assevera Guzzo: “Uma sociedade mal-humorada,
neurastênica e hostil à liberdade de expressão”.
A que ponto chegamos! Até o Enem
estabeleceu dar nota zero para os estudantes que escrevessem na prova de redação
alguma coisa contrária aos “direitos humanos”. Ainda: hostilidade a ideias discordantes
da “identidade de gênero”. E o caso de William Waack, numa conversa privada,
quase inaudível, uma piada “coisa de preto”, tenha tido tanta repercussão,
mesmo pedindo desculpas aos que se sentiram ofendidos.
Confesso que sou contra qualquer
tipo de preconceito, do tipo racial, religioso, sexual, étnico ou qualquer
outro ato discriminatório. No entanto, reconheço que estão banalizando
exageradamente essa questão. Para insurgir contra isso é necessário que a
situação (do preconceito) esteja caracterizada e contextualizada. Exemplo:
impedir a entrada de um asiático, e não dos demais, em um restaurante aberto ao
público.
Tudo isso escapa ao senso comum,
ultrapassa a razão.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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