domingo, 21 de fevereiro de 2016

Minha Luta

            Esse é o título do livro de Hitler (Mein Kampf), escrito na juventude (1925), contendo centenas de passagens racistas e antissemistas, que consolidou a base ideológica do holocausto.
            Infelizmente, numa decisão Cautelar do juiz carioca, proibiu a circulação, exposição e divulgação da referida obra literária. Foi sim, um notável erro, e como tal digno de reflexão. No início até pensou que fosse uma “pegadinha”. Atitude bizarra do magistrado foi qualificada, pelos críticos mais generosos, de “esquisito” e “decepcionante”. É como a Justiça sacar do coldre uma decisão contra o princípio constitucional da liberdade que garante a livre expressão de ideias e opiniões, contra o princípio da democracia por não permitir que ideias minoritárias participem do debate público.
            Com as vênias de estilo, essa decisão judicial (diga-se: inicial) é inócua, uma vez que esse livro está disponível na internet e em bibliotecas. Se a intenção do editor não é propaganda nazista, se há procura por quem tem curiosidade acadêmica ou de um simples leitor, não há razão para veto, mesmo existindo alguns loucos fanáticos por aí.
            Já disse noutra oportunidade. A nossa prática tupiniquim tem o péssimo hábito de esbarrar nos ditames da realidade. Como, por exemplo, a assertiva do juiz carioca de que “a tutela que melhor se coaduna com a expressa da palavra é a que evita a ocorrência do dano”.
            Nossa, se essa moda pega? Imagine suprimir da biografia de Getúlio Vargas a entrega, para a Gestapo, da judia comunista alemã Olga Benario, mulher de Prestes? Imagine suprimir a controvérsia em torno de suposto antissemitismo de Gilberto Freire, em “Casa-Grande & Senzala”, justificaria interferência judicial?
            À luz dessa compreensão, imagine o Lula, “a mais honesta das vivas almas”, ser proibido de lançar o seu livro autobiográfico falando de toda a teia montada com as marionetes petistas na Diretoria da Petrobrás e de toda literatura turbulenta da Lava Jato: desonestidade cruel e cinismo perverso.
            Ora, ora... Proibir um livro, por qualquer motivo, é miopia intelectual. Amanhã, a proibição pode ser usada contra críticas a religião, sistemas políticos, denúncias de corrupção. A liberdade de opinião é sagrada. Como manifestou certo articulista: proibições literárias têm mau cheiro dos fascismos.
            Perguntaram a Mazzaropi, criador do Jeca: O que você acredita oferecer para o seu público? O ator e cineasta respondeu: “Distração em forma de otimismo”. Se acaso fosse feita a pergunto, em relação à contribuição da publicação do livro de Hitler, com certeza ele diria: “História em forma de otimismo”.

                                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                          Advogado e mestre em Administração



                                         

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