domingo, 20 de outubro de 2013

O partido acabou



       Os partidos políticos brasileiros, há um bom tempo, passaram ser figuras meramente ilustrativas. Ocorre que essas legendas, para funcionar dentro de um sistema viciado, acabaram por rasgar os seus programas partidários, traindo os seus eleitores.
            Sem subliminares, chega a embrulhar o estômago os argumentos dos políticos para justificar a saída de um partido para outro. Em vez de uma higienização nos modos da política, assistimos hoje a uma festival de troca-troca de partidos e de criação de novas siglas, que já são 32 no País, por enquanto! Nesse tipo de república (com “r” minúsculo) e nesse tipo de democracia (com “d” minúsculo) que ninguém se iluda: a tese de partido acabou.
            Ora, ora, melhor seria uma ampla e profunda reforma política, exigindo de siglas e afiliados respeito aos princípios programáticos. Essa prática esdrúxula, amparada por uma legislação equivocada, é mais uma de nossas jabuticabas. Pior: é que somos coadjuvantes desse teatro, bobos da corte mascarada.
            É chegado a hora de deixar o marasmo de lado, tomar fôlego para combater os políticos aproveitadores desse sistema pernicioso. Está na hora de parar de apontar o dedo e fazer autocrítica, simplesmente. Todos nós, sim, somos responsáveis por esse estado de coisa. A cada eleição estamos lá referendando as suas candidaturas e apertando as suas mãos, quando deveríamos repelir.
            Quem diria que a Marina Silva, com o seu projeto de criação da “Rede Sustentabilidade”, viesse decepcionar os seus seguidores com uma proposta de fazer da política uma nova política. A bem da verdade, ela é igual a todos os outros políticos, não pensam na próxima geração, mas na próxima eleição. A queixa comum é de que essa prática passou do limite: a ideologia dos programas partidários não tem valor, o que tem valor é outra coisa.
            Decepção. Sem floreio retórico, essa é a palavra que melhor define a decisão de Marina Silva em se filiar ao PSB. Agora, com seu parceiro Eduardo Campos representa tudo àquilo que ela combatia: histórico de fisiologismo, latifúndio, elite empresarial de Pernambuco, usineiro tradicional. Por favor, não confundam o que digo com “desculpologia”.
            De fato. Apenas quatro partidos são mais do que suficientes para agregar com conforto e concisão todas as possíveis vertentes do pensamento político, econômico e social. Ou a sociedade força essa mudança de forma contundente, fazendo com que a política deixa de ser um balcão de negócio, ou ela nunca ocorrerá e o Brasil será sempre explorado pelos pseudocavalheiros da esperança.


                                                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                Advogado e Administrador de Empresas


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