segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O fim da bossa nova

            No início da década de 60, quem não se deliciava com a cachaça da bossa nova? Podia ser a qualquer hora, de dia, de noite, de madrugada. Isso não é opinião, isso é um fato: tal som harmonioso foi a maior revolução da música popular brasileira do século 20.
            Não há dúvida que a estrela reluzente da bossa nova era o violonista e cantor João Gilberto, o irritadiço purista com vocal monótono e hesitante, e com as suaves batidas de seu violão, levava seguidores e plateias ao delírio. 
            A geração da bossa nova era diferente, transpirava “carioquice”, o próprio Vinicius de Morais nunca abriu mão de viver na boemia, entre intelectuais, artistas e vagabundos. Hoje, comparando, há uma espécie de pasteurização da vida popular.  Ou melhor: uma espécie de melodrama (má qualidade). As pessoas estão cada vez mais intolerantes e se desgastam “valorizando os defeitos dos outros”.
            Se eu acreditasse nessas coisas meio esotéricas, diria que o mundo conspirou contra a bossa nova. Composições aparentemente despretensiosas, acordes intricados, harmonias lindas, melodias fantásticas como, por exemplo, “Chega de Saudade”, “Garota de Ipanema”, “Manhã de Carnaval”, “Desafinado”, “Dindi”, “Minha Namorada”, “O Barquinho”, e tantas outras.
            Sem nenhum vestígio de humor, ou de ironia, a verdade inapelável é que a bossa nova morreu, chega ao fim. Pois há um desinteresse compreensível por um tipo de música que não se renova. A bossa nova ficou prisioneira da praia, do sol, da saudade e do Rio, segundo confissões do articulista Jota Pinto Fernandes.
            Das profundezas de mim - como diria um amigo do colegial - assevero que João Gilberto, o inventor do gênero, sabe disso, mas não contou para ninguém. Tamanha irascibilidade, combina perfeitamente com a sua figura mal educada e desamável. Acho até que ele foi tomado pela soberba de imaginar que esse (ou seu) estilo musical jamais fosse acabar.
Ousaria ainda dizer que ele finge ignorância. Por isso, que os shows marcados para comemorar os seus 80 anos foram adiados de novembro para dezembro (passado). E não foi porque estava gripado, nem tampouco, pelo preço alto dos ingressos, simplesmente porque não houve interesse do público.
Pus-me a refletir: a bossa nova morreu, através de um processo agonizante da eutanásia, onde o ícone desse movimento não deixa herdeiros, infelizmente.


                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                        lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                       Advogado e Administrador de Empresas



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