segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Escondendo a joia

       É bandeira demais ficar passeando por aí, se exibindo com relógio de marca ou com alguma joia reluzente. É um verdadeiro chamariz para qualquer assaltante, no mínimo, principiante no ofício. Assim, não cultive rancor. Se não quiser mais passar por esse dissabor, faça como uma senhora endinheirada, após ser assaltada: “Neste país, você não pode ostentar. A minha extravagância é um relógio Bvlgari que só vou usar no exterior. Minhas amigas joalheiras vão ficar tristes, mas joia deixou ser investimento. Virou risco de vida”.
            Foi impossível não ficar indignado e boquiaberto a maneira como fui assaltado na praia de Iracema, Fortaleza, em plena luz do dia e sob olhar incrédulo de várias pessoas. Relato já registrado aqui num dos meus artigos. Repeti-lo é uma miscelânea, insossa, aos interessados leitores que desejam fugir do óbvio, da banalidade da vida cotidiana, do tédio, de resistir ao fetiche dos números de ocorrência (BO) divulgados pelas autoridades de segurança.
            Diante dessa situação, só há duas opções: “Se resignar ou se indignar”. E eu não vou me resignar nunca, como diria o extraordinário Darcy Ribeiro. Dado o clima vigente, parece um operador maluco de videogame que mira aquela vítima que quer atacar e pá-pá-pá: mete assalto.
            Suscitando ironia de uma cética, diz uma empresária, com um sorriso maroto e prazer masoquista em reprisar a ferida: “Graças a Deus, escapei do assalto. Agora, vou colocar à venda todas as minhas joias. Vou ficar só na biju (bijuteria)”. Afora uma série de torrentes palavrões, dito por ela, com intensidade suficiente para abalar qualquer reduto de doutrina religiosa.
            Outro dia me deparei com um turista punk tatuado, de cabelo groselho, brincos gigantes, daqueles que deformam as orelhas, e com vários piercings no nariz e nas sobrancelhas, surpreso por ter sido atacado: “Cara, como pode, acabei de ser assaltado!”. Curiosidade minha, até hoje, não sei que danado o levaram.
            Posso parecer um pouco velho, mas sou de uma época que poderia jactar-se de usar joias à vontade, sem nenhum medo de passar pela terrível experiência abrupta do assalto à mão armada e as suas consequências: agressões físicas e depressões psicológicas.  E que, para muitos, era a melhor forma particular de embromar a realidade, como levasse um “vidão”.
            Colocando a coisa de modo brusco: a mim, a você e a toda sociedade caberá não mais cobrar providências policiais (tarefa inglória!), mas sim, cobrar essa tão esperada igualdade social, só visto, até então, em discurso de cabra-cega.

                                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                          lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                           Advogado e Administrador de Empresas

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