terça-feira, 12 de julho de 2011

Uma enciclopédia de Ipanema

            Bem, para começar, desde meados dos anos 30, Ipanema recebeu uma imigração européia de alto nível cultural: alemães, franceses, italianos, ingleses e judeus de toda parte. Dessa mistura, dessa química, brotou nos anos 50 a 60 o que se chamou de República de Ipanema.
            Com elevada fluência narrativa, espírito leve e bem-humorado, Ruy Castro, no seu livro “Ela é carioca – Uma enciclopédia de Ipanema”, mostra que o bairro de Ipanema (localizado na estreita faixa entre a praia e a Lagoa Rodrigues de Freitas) era um lugar que nenhum outro no país produziu tantos cronistas, poetas, romancistas, designers, arquitetos, cartunistas, artistas plásticos, compositores, cantores, jornalistas, fotógrafos, atores, modelos e esportistas.
            Ali tudo era simples e profundo. Era volúpia sem freios. Essa mestiçagem cultural espalhava-se pelos botequins do bairro, como o Jangadeiro, o Zeppelin, o Veloso, o Mau Cheiro... Detalhe: as mulheres eram lindas, ousadas; os rapazes, atléticos e bronzeados.
            Essa obra de Ruy Castro nos ajuda a compreender o verdadeiro fenômeno dessa geração e a nos desnudar de qualquer tipo de preconceito. Nela foram inseridos 231 verbetes, abrangendo notáveis figuras que ajudaram a mudar o jeito de o brasileiro escrever, falar, comportar-se, vestir-se e até despir-se.
            Combinando linguagem de cabaré com samba e bossa nova, como também, com frases ferinas e de fino humor, ele cita, entre célebres personagens, Antonio Carlos – Tom Jobim (O Brasil não é para principiante); Cacá – Carlos Diegues (Meu instrumento de trabalho é a liberdade); Hugo Carvana (Para ser perfeito, um botequim tem de ser um pouco fedorento. Aquela mosquinha voando por cima do tira-gosto é fundamental); Cazuza (Brasil, mostra a tua cara); Danuza Leão (Quando entrar num banheiro, deixe-o impecável ao sair. Aja como se tivesse acabado de cometer um assassinato); Paulo Francis (De mim, basta eu); Fernando Gabeira (A esquerda quer que as pessoas esperem setenta anos para ter um orgasmo quando a revolução triunfar).
            Outro registro marcante é da atriz e musa Leila Diniz (Já amei gente, já corneei gente e eles entenderam e não teve problema nenhum. Somos todos uma grande família) sendo fotografada na praia, de biquíni, com uma barriga de seis meses – à época, um escândalo! Por fim, Vinicius de Morais (Nada mais lindo que as feiurinhas da mulher amada), boêmio, apaixonado pelas esposas e um intelectual que não recuava diante da vida, sempre eleito o “homem típico de Ipanema”.
            Taí... essa trupe foi, para muitos, um porto de saída, saída para quem precisava partir, despedindo-se das ilusões, das dores, dos fracassos e decepções.
           

LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

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