quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A ideia da morte

 

            Há poucos dias perdi um ente querido, e, na capela onde ele estava sendo velado, presenciei um jovem padre lhe prestando as últimas pregações religiosas.

            Fiquei comovido: com seu olhar, calmo, na mais pura calma como se pudesse controlar o tempo. Um mix de pensamentos, reflexões pessoais e sabedorias bíblicas, ele nos disse que vivemos uma vida na qual a morte é negada. Onde, ainda, em pleno século XXI, a morte é um sentimento que a maioria das pessoas não pode suportar. Consciente ou inconscientemente afasta a ideia da morte. É como negar (estupidamente) o fato de que todos os homens e todas as mulheres são mortais.

            Diante desse realismo dogmático - nada de surpresas e obviedades - afirmava o reverendo: “Para tudo há o tempo certo, inclusive tempo para nascer e tempo para morrer”. E completa: “Jamais pronuncie, nem por brincadeira: ‘Eu quero morrer’; ‘Não quero mais viver!’”.

            É grave miopia pensar diferente. Pois, nossa maior riqueza é a vida, e como ela, o amor e a presença das pessoas queridas ao nosso redor. Quem vive chamando a morte vai, também, pouco a pouco, perdendo o gosto pela vida, antecipando, assim, a sua própria destruição.

            Ora, vejam só. Quando eu era guri fechava os olhos à noite e imaginava o mundo continuando a existir para sempre. Imaginava, com completo terror, o mundo continuava para sempre e sempre... sem a minha presença. Até hoje guardo essa sensação dos cabelos da nuca arrepiados.

            Depois, já adolescente, por favor, Deus, eu rezava então, sei que não pode afastar a morte. Mas não pode dar um jeitinho para eu deixar de pensar nela? Assim, em minha cabeça, era a pergunta chamando por uma resposta, quiçá desconcertante ou que beira o grotesco.

            A verdade, viver é correr risco, a cada instante. Para vencer, é preciso ousadia, determinação, espírito de aventura e coragem para enfrentar os maus tempos e os ventos desfavoráveis. Quanto à morte, não vamos chegar ao extremo de querer deleitar-se, mas encará-la com naturalidade, sem medo, como um processo normal do ciclo da vida.

            Ah! Ia esquecendo! Para terminar, cai como uma luva a citação de Ovídio: “Tudo em nós é mortal, menos os bens do espírito e da inteligência”.

 

 

                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                       Advogado, administrador e escritor

           

           

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