Lembro-me, era primavera, uma bela época para renovar o espírito, assim como as flores se renovam. Aproveitei o ambiente dessa estação, considerada também a mais bonita, e decidi, num majestoso dia de domingo, assistir a missa na imponente Igreja de Nossa Senhora da Guia, uma vez que me encontrava passando o fim de semana nessa apaixonada e abençoada cidade litorânea de Lucena.
Minha
cabeça latejava (decorrente dos drinques do dia anterior), o suor me escorria
pelo rosto e o sol parecia ter ficado mais quente, apesar do meu relógio marcar
8h dessa linda manhã.
Bem, eu
já dentro do recinto da igreja, acompanhado de minha querida consorte, deu-se
início ao Culto Religioso, com o costumeiro Canto de Entrada, depois o Ato
penitencial, o Hino de Louvor e por aí vai.
De repente, o Sacerdote, com feição de
cearense e com estilo “pop star” do Padre Marcelo Rossi, interrompeu a sua
pregação, bem no começo de sua homilia, para receber no altar uma velhinha de
cabelos dourados, com expressão de respeito, vistosa em sua simplicidade, com
as suas mãos trêmulas e se contorcendo,
fitando a todos com os olhos embevecidos. Sendo apoiada, acredito, por sua
filha, também com idade já bem avançada.
De
forma carinhosa, o nosso padre celebrante lhe abraça, acomodando-a num banco
lateral do altar sagrado. E ao mesmo tempo tem uma conversa rápida tipo de pé
de ouvido.
Retornando
a sua pregação, disse então esse reverendo: “Tenho a satisfação de apresentar
aqui no santuário, a senhora dona Maria..., conforme ela declara, tem 97 anos.
Uma salva de palmas para esta querida religiosa”.
Foi
aquele fuzuê sonorizado de aplausos, numa simbiose de alegria e entusiasmo dos
fiéis ali presentes.
Desencadeou-se
de súbito em mim uma tremenda emoção. Cerrei os dentes. Engoli as lágrimas que
tinham me ameaçado. Com os olhos marejados fiz força para não chorar diante
daquela figura singular, pequenina, com uma vitalidade invejável face à sua
longevidade.
Decerto,
para nós pecadores um bálsamo do bem querer. Como tivesse ali, aquela senhora,
para curar todas as feridas, dando exemplo a todos de que “A vida só se dá para
quem se deu”, como dizia o nosso poetinha Vinícius de Morais.
Pois é.
Precisamos das outras pessoas não apenas para
permanecer vivos, mas para nos sentirmos
totalmente humanos.
Pus-me
ainda a refletir: eis aí uma grande fonte de inspiração, essa encantadora
Senhora. Ao manifestar assim, não faço mais do que uma simples e prosaica
constatação de que Deus nos deu um verdadeiro arsenal de guerra, com armas
poderosas, tais como: a fé, a perseverança, a esperança, o otimismo e o louvor.
Além
disso, dei-me conta de algo: de tanto assim pecar, pecador, nem sei mais do que
pedir perdão a Deus, se dos sonhos que gostaria de sonhar, se das quimeras que
não me permiti sonhar.
Fim de
emoções! Fim de missa!
LINCOLN CARTAXO DE
LIRA
Advogado, administrador e escritor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário