quarta-feira, 14 de julho de 2021

Emoções de uma missa

             Lembro-me, era primavera, uma bela época para renovar o espírito, assim como as flores se renovam. Aproveitei o ambiente dessa estação, considerada também a mais bonita, e decidi, num majestoso dia de domingo,  assistir a missa na imponente Igreja de Nossa Senhora da Guia, uma vez que me encontrava passando o fim de semana nessa apaixonada e abençoada cidade litorânea de Lucena.

            Minha cabeça latejava (decorrente dos drinques do dia anterior), o suor me escorria pelo rosto e o sol parecia ter ficado mais quente, apesar do meu relógio marcar 8h dessa linda manhã.
            Bem, eu já dentro do recinto da igreja, acompanhado de minha querida consorte, deu-se início ao Culto Religioso, com o costumeiro Canto de Entrada, depois o Ato penitencial, o Hino de Louvor e por aí vai.
            De repente, o Sacerdote, com feição de cearense e com estilo “pop star” do Padre Marcelo Rossi, interrompeu a sua pregação, bem no começo de sua homilia, para receber no altar uma velhinha de cabelos dourados, com expressão de respeito, vistosa em sua simplicidade, com as
suas mãos trêmulas e se contorcendo, fitando a todos com os olhos embevecidos. Sendo apoiada, acredito, por sua filha, também com idade já bem avançada.
            De forma carinhosa, o nosso padre celebrante lhe abraça, acomodando-a num banco lateral do altar sagrado. E ao mesmo tempo tem uma conversa rápida tipo de pé de ouvido.
            Retornando a sua pregação, disse então esse reverendo: “Tenho a satisfação de apresentar aqui no santuário, a senhora dona Maria..., conforme ela declara, tem 97 anos. Uma salva de palmas para esta querida religiosa”.
            Foi aquele fuzuê sonorizado de aplausos, numa simbiose de alegria e entusiasmo dos fiéis ali presentes.
            Desencadeou-se de súbito em mim uma tremenda emoção. Cerrei os dentes. Engoli as lágrimas que tinham me ameaçado. Com os olhos marejados fiz força para não chorar diante daquela figura singular, pequenina, com uma vitalidade invejável face à sua longevidade.
            Decerto, para nós pecadores um bálsamo do bem querer. Como tivesse ali, aquela senhora, para curar todas as feridas, dando exemplo a todos de que “A vida só se dá para quem se deu”, como dizia o nosso poetinha Vinícius de Morais.
            Pois é.
Precisamos das outras pessoas não apenas para permanecer vivos, mas para nos sentirmos totalmente humanos.
            Pus-me ainda a refletir: eis aí uma grande fonte de inspiração, essa encantadora Senhora. Ao manifestar assim, não faço mais do que uma simples e prosaica constatação de que Deus nos deu um verdadeiro arsenal de guerra, com armas poderosas, tais como: a fé, a perseverança, a esperança, o otimismo e o louvor.
            Além disso, dei-me conta de algo: de tanto assim pecar, pecador, nem sei mais do que pedir perdão a Deus, se dos sonhos que gostaria de sonhar, se das quimeras que não me permiti sonhar.
            Fim de emoções! Fim de missa!       

LINCOLN CARTAXO DE LIRA
A
dvogado, administrador e escritor.


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