Revirando os meus arquivos,
encontrei o livrinho “Lembrança da Minha Primeira Comunhão” – Editora Ave
Maria, 1965. Já bem desgastado pelo tempo, mas bem presente na minha memória.
Nele,
consta no seu introito uma
promessa (julgamento): “Sou cristão. Prometo viver até a morte como bom
católico, e ser sempre fiel aos seus ensinamentos de minha Santa Mãe, a Igreja
Católica”.
Interessante
como funciona a nossa memória. Às vezes não recordamos sequer a refeição que
fizemos no dia anterior, mas têm coisas da nossa infância que ficam gravadas
pra sempre na reminiscência, e que lembramos pro resto da vida. Por exemplo: A
primeira comunhão.
Após
o aprendizado elementar dos dogmas e preceitos da Religião Católica, estava eu
lá, pronto e confiante para o ato de confissão, antes de receber a sagrada
comunhão. Tendo o sacerdote (padre), representante de Jesus, e em seu nome,
aguardava para nos perdoar todos os pecados e nos deixar com a alma e o coração
devidamente purificado.
Não
sei porque
cargas-d ’água no dia marcado para a cerimônia da confissão, o padre paroquial
de Cajazeiras não se encontrava, sendo substituído pelo Bispo Dom Zacarias
Rolim de Moura, autoridade eclesiástica máxima da diocese.
Puxa
vida, foi uma surpresa (a troca): não só para mim como para os demais
candidatos à eucaristia. Todos tinham um medo danado desse reverendo, pelo fato
dele ser extremamente sisudo, mal-humorado e de pouca conversa.
-
Bobagem! Nós somos crianças... ele nada fará contra a gente...
a não ser aplicar o castigo da penitência
(rezas, muitas rezas) – assim me manifestei.
Dirigindo-me
ao confessionário, na cara-de-pau (como se diz por aí), ajoelhei à sua frente
quase apoiando em suas pernas, e nesse tête-à-tête, separado apenas por uma
pequena cortina de seda vermelha, ele foi logo ao âmago da questão:
-
Filho, conte-me toooodos os seus pecados?
-
Tá bem! – Sentindo na barriga aquele friozinho da inconsciência, da travessura,
comecei na ocasião a discorrer sobre os meus atos pecaminosos. Sempre tentando
fazer um “mea-culpa”. Cônscio de estar longe do famoso Juquinha, o menino
safado que só pensava “naquilo”.
Como
se não bastasse, já pesaroso, o confessor falou-me que, para alcançar a
plenitude do perdão, eu teria que revelar todos os meus pecados... Sem deixar
nenhum!
Quis-se
que o deseja fosse realidade. E na hora do “vamo-vê”, numa verdadeira sinuca de
bico, minhas pernas começaram a tremer, a boca a secar e o coração a palpitar
numa aceleração descomunal, e eis o resultado:
-
Coooomo? – Naquele silêncio sepulcral de igreja, gritou o nosso bispo a plenos
pulmões, e mais:
-
Não é possíííível!!!
A
partir de então, no clima de resolução e lavagem de roupa suja, foi desvelado o
segredo do sumiço das pinhas do sítio existente no Palácio Episcopal. E como
punição (penitência): fiquei de joelho por duas horas rezando, de cor e
salteado, as orações para todo tipo de santo.
LINCOLN
CARTAXO DE LIRA
Advogado,
administrador e escritor.
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