Em
minha opinião, mais uma vez, razoavelmente correta, era de se esperar que o SUS
- com quase 25 anos de implantação e com
a responsabilidade de levar a saúde para todos - amadurecesse o suficiente para executar
plenamente as suas metas, transformando o Brasil em exemplo mundial na questão
da saúde pública.
Aqui no meu canto, deste espaço
jornalístico, não tenho dúvida dizer que o SUS está em estado de coma, pedindo
entrada na UTI de um hospital. Pior, com grandes chances de ficar na fila de
espera de um hospital que deveria ser público, mas que está nas mãos da iniciativa
privada.
É nesse território que a incúria
gerencial da gestão pública parece imperar. Ou seja: parece que o Brasil está
indo na contramão daquilo que a nossa própria Constituição definiu. Hoje, os
gastos privados em saúde são maiores que os gastos públicos. Nenhum sistema que
pretende ser universal tem essa equação. Quando a gente tem 53% gastos privados
contra apenas 47% de gastos públicos, isso explica a nossa imensa desigualdade.
Cenário melancólico, que deixa
qualquer especialista na área de cabelo em pé. O dado é alarmante. Mais da metade
dos investimentos em saúde no País visam o setor privado, que atende um quarto
da população brasileira por meio de convênios e clínicas particulares. Enquanto
isso, o já minoritário investimento no setor público – que atende 75% da
população – ainda se vê envolto em questões dúbias, como a liberação de grande
parte de sua verba para entidades de direito privado, ditas “sem fins
lucrativos”.
Como não bastasse o desrespeitoso
(mencionado) “gestão moderna”, temos ainda que aguentar a proliferação do comércio
de planos de saúde por operadores privados, criando um setor denominado saúde
suplementar.
Diante das circunstâncias, é
necessário ter homens leais a frente da administração pública, providos de
coragem e conscientes de sua responsabilidade moral e ética para combaterem os
interesses escusos dessas operadoras que empurram para o SUS aquilo que é mais
caro, mais oneroso, que a rede não dá conta. E o insensato é que as tragédias
passam em branco, incólumes, como se fossem fatalidades gratuitas.
É por isso que, de vez em quando,
meu amigo Cordeiro, bem ao seu estilo de botar a boca no trombone, assim se
manifesta: “Brasil, a terra de pouca-vergonha oficializada!!”.
Um dia, espero, esse penduricalho
obtuso (vergonhoso) cairá totalmente. Vamos torcer... e rezar.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado
e Mestre em Administração
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