A importância do circo na cultura brasileira está longe de ser daquele tempo de outrora. Sou da época, lá na cidade de Padre Rolim (Cajazeiras), que a chegada do circo era motivo de festa e de grande frenesi entre a meninada.
O recado verbal de “Senhoras e senhores, respeitável público: O Circo chegou!” está cada vez mais difícil de ouvir. E quando estranhamente se ouve, faço como muitos outros aficionados dessa arte circense, corre às pressas para assistir o maior espetáculo tradicional da terra. Assim aconteceu, quando entusiasmado que fui, juntamente com minha consorte, prestigiar a temporada do grande Circo Tihany, em passagem pela nossa capital.
Pensando bem, apesar de todo modernismo e de confortável ambiente, confesso que não me surpreendi tanto assim com as suas atrações artísticas. Acredito pelo fato de já conhecer bem a nova modalidade de circo que atualmente exibe o Cirque Du Soleil e o Circo Imperial da China. Um tipo de espetáculo totalmente performático e glamoroso.
De qualquer sorte, uma coisa que sempre me tocou, nessa reminiscência nostálgica do circo, era o retumbante lampejo de magia, de criatividade, de alegria e de improviso, exercida por aqueles profissionais de “espasmo talento”; onde há música (ao vivo) e as variedades artísticas se interagiam com arte e com gente, numa completa harmonia e técnica irrepreensível.
Vejo, hoje, que lugar de animal é no seu habitat natural ou no zoológico, mas, naquele tempo, encantava-me ver no picadeiro os poodles subindo e descendo escadas. Tigres atravessando arcos em chamas. Elefantes quase sonolentos subindo num banquinho e dançando uma rumba. Cavalos que rodopiavam, rodopiavam e não ficavam tontos. E macacos “bicicletando” com saiotes de tule. Decerto, não existia espetáculo sem animais.
Refrescando ainda a memória, na inocência dos meus parcos anos, as peripécias do palhaço faziam à diferença ao espetáculo - tinham fascínio maior. Se o circo não tivesse uma trupe de bons palhaços, estava irremediavelmente fadado ao fracasso de bilheteria. Mesmo sendo previsível o palavrório, gostava à beça o bordão ingênuo: “Hoje tem marmelada? Tem sim, senhor! Hoje tem goiaba? Tem sim, senhor! E o palhaço, o que é? É ladrão de mulher!”.
De todas as companhias, o Circo Garcia é a que me trás as melhores recordações artísticas. Lamentavelmente, depois de 75 anos de atividades no Brasil, teve que a arriar a lona (em definitivo) decorrente de suas crises financeiras sucessivas.
Vale uma observação final: ao avistar, às vezes, os pequenos circos pelos bairros da periferia das grandes cidades ou das cidades do interior, meus olhos ficam marejados de saudade e a certeza de que pelo menos um palhaço no picadeiro a mostrar que fazer sorrir ainda é o melhor remédio.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de empresas
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